terça-feira, 2 de setembro de 2014

O CORDÃO UMBILICAL: OS NEGROS NA AMÉRICA LATINA



              Em geral, os livros sobre os africanos especialmente os escritos por brasileiros tem seu foco na escravidão. Quando uma obra trata dos africanos de diversas classes é possível verificar quão pequena é a instituição escravista em relação ao montante de africanos livres e poderosos. Esta é a leitura do afro americano Henry Louis Gates Jr. que ao escrever sobre os negros na América latina aproveita para fazer uma releitura da história africana. Tratando em especial das múltiplas  comunidades intelectuais pan-africanos que tem geral interligadas e que sabiam das condições dos escravos africanos na América.
O autor estuda os casos do: Brasil, México, Peru, Republica Dominicana, Haiti e Cuba, nos quais o país tem em comum que a as pessoas de pele escura ocupam aparte mais ampla da sociedade. Neles a pobreza foi construída em torno de graus de origem africana. Por outro lado há outro caso comum é o do embranquecimento da população, através da mestiçagem e ainda da existência de certo preconceito em relação às práticas culturais pouco aceitas fora das raízes comuns das etnias que criaram os povos latinos americanos. Sendo o autor afro-americano olhar que lança sobre os afro-brasileiros e Dos outros países é único e certa maneira ingênuo



Brasil: que Exu me conceda o dom da palavra.

Sobre o Brasil o autor pouco sabia. Conhecia a obra Casa Grande e Senzala de Gilberto Freire, livro que criou para o Brasil o mito da democracia racial. A primeira visão que o autor teve dos africanos no Brasil foi a partir do filme Orfeu do Carnaval. Filme de Marcel Camus, realizado em 1959 a partir de um roteiro de Vinicius de Morais, que reconta a lenda de Eurídice e Orfeu cujo cenário é uma favela carioca. Para Gates o filme repassa o mito para a favela carioca sem pregação de raça ou de classe. Para ele o premiadíssimo  filme que ganhou todos os prêmios do cinema de 1960  ganhando até o Oscar era a versão cinematográfica da Casa Grande e Senzala.Filme esquecido no Brasil de hoje.
A escravidão brasileira para ele é que a importou maior número de africanos totalizando 43% dos escravos embarcados para as Américas. Desta forma os 97 milhões de descendentes de africanos, sobre uma população de cerca de 200 milhões de habitantes, o que torna o Brasil a nação mais hibrida do planeta.
A maioria dos escravos importados era angolana, a fonte citada é o Banco de Dados do Comércio transatlântico de escravos, a maioria deles já era católica, um “catolicismo angolano” e que foi trazido da África para o Brasil. A existência de tantos angolanos escravos e ao mesmo tempo o cristianismo trazido pelos escravos é dado novo na historiografia brasileira. O cristianismo angolano era um religião africana do mesmo modo que os cultos africanos dos xinguilas nome dado pelos portugueses ao cultos do candomblé.Também do reino do Congo o catolicismo era a religião ‘nacional’.Muitos escravos eram batizados antes de serem exportados para o Brasil ,costume tradicional ,fatos ignorados pela historiografia tradicional brasileira.
O autor observa a permanência das tradições africanas que apesar de séculos de escravidão conseguiram sobreviver, assumindo formas poderosas que continuam até hoje no Brasil. Para ele há permanências que revelam a inegável da força da cultura africana no Brasil entre elas: a capoeira e o carnaval baiano.
A capoeira forma de dança e de defesa pessoal tem origem controversa. A origem da capoeira é difícil de ser traçada ,já existia no Rio de Janeiro oitocentista ,sendo citada muitas vezes nas crônicas de Gonçalves Dias. Para o poeta no ano de 1849, as capoeiras eram responsabilizados pelos crimes que aconteciam na cidade, “negros, vagabundos e ociosos que matavam para passar seu tempo, em maltas fantasiadas com chapéus altos e faixas”. “Os capoeiras”!… são criaturas inteiramente excepcionais, eminentemente perigosas; matam por não terem que fazer por contarem com a impunidade do incógnito. Não havia crime que não fosse a eles atribuídos de tal sorte “que os policiais andassem lestos e ativos por todas as ruas, não consentindo dois pretos parados a uma esquina, revistando a todos, e prendendo os suspeitos.” E alem disso neles batiam, não respeitando os negros que tivessem profissões, sendo perseguidos de forma especial os marinheiros. De qualquer forma a capoeira se tornou no século XIX sinônimo de contraventor, assim não foi surpresa quando em 1890, a capoeira foi criminalizada e sua prática proibida. Só na segunda metade do século XX que tal pecha foi exorcizada.
O carnaval de origem grega se tornou comum no Rio de Janeiro e na Bahia, sendo semelhante ao Mardi Gras norte americano, que marca o inicio da quaresma. Mas os africanos acrescentaram ao carnaval europeu suas próprias tradições. Como as demais práticas de origem africana no carnaval do Rio de Janeiro no inicio do século XX por serem demasiado africanas ou primitivas. Mais tarde no decorrer do mesmo século voltaram a ser aceitas. Um exemplo citado pelo autor é o carnaval baiano, altamente influenciado pelas tradições iorubás. Num dos principais blocos africanos do carnaval baiano é o Illê Aiyê o inicio do desfile se dá com uma propiciarão simbólica ao senhor da peste Omulu.Os blocos baianos tem o propósito de buscar as raiz4es africanas num carnaval marcado também (como no restante do Brasil) pelo embranquecimento.
            Ao analisar a escravidão em Minas Gerais ele aponta o caso de Chica da Silva que para sua ascensão social deixou de lado a cultura e os costumes africanos, se integrando nos costumes dos brancos, deixando de lado seus costumes e sua identidade. Ao morrer mereceu um enterro de branco. Não podendo branquear a pela branqueou os costumes para poder ser aceita na sociedade de então.
Outro elemento particular no Brasil é existência de 134 termos para descrever os tons da miscigenação do Brasil. Para ele no Brasil há uma obsessão pela cor, assim o negro mais escuro é chamado de ‘preto azul “e o mais claro de ‘mulato disfarçado’”. Esta parece ser uma das idiossincrasias da cultura brasileira.
Chama a atenção para o importante papel de Manuel Raimundo Querino (1851-1923) que foi o principal intelectual na luta pela identidade africana. Tentou se tornar soldado, mas não conseguiu, de volta à Bahia, começou s trabalhar como pintor e decorador. Estudaram francês e português, no Colégio 25 de Março e no Liceu de Artes e Ofícios. Concluiu o curso da Escola de Belas, formando-se desenhista em 1882.  Depois concluiu o curso de arquiteto, tornando-se lente de desenho geométrico no Liceu de Artes e Ofícios e no Colégio dos órfãos de S. Joaquim. Era um republicano, liberal, abolicionista, assinou o manifesto de republicano de 1870, da Sociedade Libertadora Sete de Setembro. Fundou os jornais "A Província" e "O Trabalho" em defesa dos ideais republicanos e abolicionistas.. Escreveu para a "Gazeta da Tarde" uma série de artigos sobre a extinção do elemento servil. Tornou-se um verdadeiro líder da classe, em campanhas memoráveis pelas causas trabalhistas e operárias. Foi escolhido  para  a Câmara Municipal. Funcionário publica exerceu o cargo de No seu modesto  de 3°. Oficial da Secretaria da Agricultura, sendo preterido nas promoções Dedicou-se  aos estudos históricos,  e a pesquisa e  registro das contribuições dos Africanos ao crescimento do Brasil. Publicou em 1906, Os artistas Bahianos, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, entre  1908 a 1914 realizou  estudos também publicados  na mesma revista. Querino  foi o primeiro brasileiro  a estudar as contribuições africanas no Brasil. reformado em 1916 foi para no Matatú Grande, com sua família.



 No mesmo ano participou do 5. ° Congresso Brasileiro de Geografia na Bahia, cujas anais contém A raça africana e os seus costumes (294 páginas), e publicou A Bahia de outrora--Vultos e Fatos Populares; (310 páginas). Morando numa  comunidade de descendência Africana, conhecia seus costumes, suas pesquisas se baseiam  em informações de afro-brasileiros idosos Chamou a atenção dos oficiais municipais às perseguições existentes aos praticantes das religiões Afro-baianos. Historiadores certamente devem muito a Querino. Ele preservou informações sobre as artes, artistas e artesões da Bahia. sendo essencial fonte e para o estudo de História Social, com s informações sobre costumes, cultura e religião.  Em seu ensaio o O Colono Preto como Fator da Civilização Brasileira(Anais do 6.º; Congresso Brasileiro de Geografia, 1918) no qual busca as  origens da cultura  brasileira.
Querino foi esquecido sendo suplantado pelo romantismo e pela visão braça de Gilberto Freire. Cuja influencia até hoje marca a visão da escravidão com o algo menos cruel do que foi. Por último ao autor entrevista Zezé Macedo e seu herói Abdias do Nascimento.



Abdias do Nascimento(1914-1911) político e ativista social brasileiro. Foi um dos maiores defensores da defesa da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil. Diplomou-se em contabilidade em 1929 e em ciências econômicas pela Universidade do Rio de Janeiro em 1938 Concluiu o curso de sociologia no Instituto Superior de Estudos Brasileiros em 1956. Foi . Diretor e fundador do Teatro Experimental do Negro qual dirigiu de  1944 a 1968 Participou da fundação do Partido Trabalhista Brasileiro. Foram um dos o organizadores do primeiro Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. Exilou-se  durante o Golpe de 1964 voltou em 978 quando fundou o. Movimento Negro Unificado >Em 1980, com Leonel Brizola – foi um dos fundadores do Partido Democrático Trabalhista (PDT)sendo seu vice-presidente  No ano seguinte fundou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros(IPEAFRO), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em  1982 concorreu à Câmara dos Deputados pelo Rio de Janeiro, obtendo a terceira suplência da legenda.  Com  a nomeação do deputado José Maurício para a Secretaria de Minas e Energia, Abdias assumiu em março de 1983 uma cadeira na Câmara. . Sua atuação como deputado foi centrada na defesa dos direitos humanos e civis dos negros no Brasil. s iniciativas de Abdias tiveram desdobramento durante as discussões da Assembleia Nacional Constituinte. Com a nova Carta, promulgada em outubro de 1988, o direito brasileiro passou a contemplar a natureza pluricultural e multiétnica do país, a prática de racismo tornou-se um crime inafiançável e determinou-se pela primeira vez a demarcação das terras dos remanescentes de quilombos, antigas comunidades de escravos. Abdias foi um dos responsáveis pela instituição da Comissão do Centenário da Abolição em 1988 e por seu desdobramento na Fundação Cultural Palmares. Foi senador substituindo Darcy ribeiro em 1997 -1999.  O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista foi sua principal obra. Entrevistado por Gates foi incisivo quanto à falsidade do mito da  democracia racial brasileira  ao afirmar que:
Tudo isso são invencionices A escravidão aqui foi violenta, sangrenta. Por favor entenda que eu digo isso com profundo ódio ,com  muita amargura com relação a for,ma como os negros são tratados no Brasil.Porque é uma vergonha que o Brasil tenha uma maioria  de negros,que constituiu esses pais ,mas continuam até hoje a ser tratados como cidadãos de segunda categoria .
Depois de reclamar contra os desconhecimento que foi submetido pela educação na ignorância de seus desuses e de sua cultura completa: “Fui o primeiro senador consciente de ser negro.”.
A seguir entrevistou MV Bill, o mais importante rapper brasileiro nascido e criado na Cidade de Deus que apesar de rico, continua morando lá por seus vínculos com a comunidade. Repete em síntese  o que diz Abdias em relação ao mito da democracia racial


Qualquer pessoa nota que isso é uma mentira quando vê a cor das pessoas que estão nas cadeias, à cor das pessoas que cometem crimes para sobreviver. As pessoas vão dizer que n osso problema aqui no Brasil é econômico ou social ,que é tudo menos racial. Nunca é racial.Mas é
Na música  a  voz do excluído diz MV Bill:

Nascido e criado na CDD
Nascido preto e perseguido até morrer
Me ver na prisão é o desejo da madame
Mas eu não tenho AP de 1 milhão em Miami
Comprado e mobiliado com dinheiro do povo
(continua)


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