Em geral, os
livros sobre os africanos especialmente os escritos por brasileiros tem seu
foco na escravidão. Quando uma obra trata dos africanos de diversas classes é
possível verificar quão pequena é a instituição escravista em relação ao
montante de africanos livres e poderosos. Esta é a leitura do afro americano
Henry Louis Gates Jr. que ao escrever sobre os negros na América latina
aproveita para fazer uma releitura da história africana. Tratando em especial
das múltiplas comunidades intelectuais pan-africanos
que tem geral interligadas e que sabiam das condições dos escravos africanos na
América.
O
autor estuda os casos do: Brasil, México, Peru, Republica Dominicana, Haiti e Cuba,
nos quais o país tem em comum que a as pessoas de pele escura ocupam aparte
mais ampla da sociedade. Neles a pobreza foi construída em torno de graus de
origem africana. Por outro lado há outro caso comum é o do embranquecimento da população,
através da mestiçagem e ainda da existência de certo preconceito em relação às práticas
culturais pouco aceitas fora das raízes comuns das etnias que criaram os povos
latinos americanos. Sendo o autor afro-americano olhar que lança sobre os
afro-brasileiros e Dos outros países é único e certa maneira ingênuo
Brasil: que Exu me conceda o dom da
palavra.
Sobre
o Brasil o autor pouco sabia. Conhecia a obra Casa Grande e Senzala de Gilberto
Freire, livro que criou para o Brasil o mito da democracia racial. A primeira
visão que o autor teve dos africanos no Brasil foi a partir do filme Orfeu do
Carnaval. Filme de Marcel Camus, realizado em 1959 a partir de um roteiro de
Vinicius de Morais, que reconta a lenda de Eurídice e Orfeu cujo cenário é uma
favela carioca. Para Gates o filme repassa o mito para a favela carioca sem
pregação de raça ou de classe. Para ele o premiadíssimo filme que ganhou todos os prêmios do cinema
de 1960 ganhando até o Oscar era a
versão cinematográfica da Casa Grande e Senzala.Filme esquecido no Brasil de
hoje.
A
escravidão brasileira para ele é que a importou maior número de africanos
totalizando 43% dos escravos embarcados para as Américas. Desta forma os 97
milhões de descendentes de africanos, sobre uma população de cerca de 200
milhões de habitantes, o que torna o Brasil a nação mais hibrida do planeta.
A
maioria dos escravos importados era angolana, a fonte citada é o Banco de Dados
do Comércio transatlântico de escravos, a maioria deles já era católica, um
“catolicismo angolano” e que foi trazido da África para o Brasil. A existência
de tantos angolanos escravos e ao mesmo tempo o cristianismo trazido pelos
escravos é dado novo na historiografia brasileira. O cristianismo angolano era
um religião africana do mesmo modo que os cultos africanos dos xinguilas nome
dado pelos portugueses ao cultos do candomblé.Também do reino do Congo o
catolicismo era a religião ‘nacional’.Muitos escravos eram batizados antes de
serem exportados para o Brasil ,costume tradicional ,fatos ignorados pela
historiografia tradicional brasileira.
O
autor observa a permanência das tradições africanas que apesar de séculos de
escravidão conseguiram sobreviver, assumindo formas poderosas que continuam até
hoje no Brasil. Para ele há permanências que revelam a inegável da força da
cultura africana no Brasil entre elas: a capoeira e o carnaval baiano.
A capoeira forma de dança e de
defesa pessoal tem origem controversa. A origem da capoeira é difícil de ser
traçada ,já existia no Rio de Janeiro oitocentista ,sendo citada muitas vezes
nas crônicas de Gonçalves Dias. Para
o poeta no ano de 1849, as capoeiras eram responsabilizados pelos crimes que
aconteciam na cidade, “negros, vagabundos e ociosos que matavam para passar seu
tempo, em maltas fantasiadas com chapéus altos e faixas”. “Os capoeiras”!… são criaturas inteiramente
excepcionais, eminentemente perigosas; matam por não terem que fazer por
contarem com a impunidade do incógnito. Não havia crime que não fosse a eles
atribuídos de tal sorte “que os policiais andassem lestos e ativos por
todas as ruas, não consentindo dois pretos parados a uma esquina, revistando a
todos, e prendendo os suspeitos.” E alem disso neles batiam, não respeitando os
negros que tivessem profissões, sendo perseguidos de forma especial os marinheiros.
De qualquer forma a capoeira se tornou no século XIX sinônimo de contraventor,
assim não foi surpresa quando em 1890, a capoeira foi criminalizada e sua
prática proibida. Só na segunda metade do século XX que tal pecha foi
exorcizada.
O carnaval de origem grega se
tornou comum no Rio de Janeiro e na Bahia, sendo semelhante ao Mardi Gras norte
americano, que marca o inicio da quaresma. Mas os africanos acrescentaram ao
carnaval europeu suas próprias tradições. Como as demais práticas de origem
africana no carnaval do Rio de Janeiro no inicio do século XX por serem
demasiado africanas ou primitivas. Mais tarde no decorrer do mesmo século
voltaram a ser aceitas. Um exemplo citado pelo autor é o carnaval baiano, altamente
influenciado pelas tradições iorubás. Num dos principais blocos africanos do
carnaval baiano é o Illê Aiyê o inicio do desfile se dá com uma propiciarão
simbólica ao senhor da peste Omulu.Os blocos baianos tem o propósito de buscar
as raiz4es africanas num carnaval marcado também (como no restante do Brasil)
pelo embranquecimento.
Ao
analisar a escravidão em Minas Gerais ele aponta o caso de Chica da Silva que
para sua ascensão social deixou de lado a cultura e os costumes africanos, se
integrando nos costumes dos brancos, deixando de lado seus costumes e sua
identidade. Ao morrer mereceu um enterro de branco. Não podendo branquear a
pela branqueou os costumes para poder ser aceita na sociedade de então.
Outro elemento particular no
Brasil é existência de 134 termos para descrever os tons da miscigenação do
Brasil. Para ele no Brasil há uma obsessão pela cor, assim o negro mais escuro
é chamado de ‘preto azul “e o mais claro de ‘mulato disfarçado’”. Esta parece
ser uma das idiossincrasias da cultura brasileira.
Chama a atenção
para o importante papel de Manuel
Raimundo Querino (1851-1923) que foi o principal intelectual na luta pela
identidade africana. Tentou se tornar soldado, mas
não conseguiu, de volta à Bahia, começou s trabalhar como pintor e decorador. Estudaram
francês e português, no Colégio 25 de Março e no Liceu de Artes e Ofícios. Concluiu
o curso da Escola de Belas, formando-se desenhista em 1882. Depois concluiu o curso de arquiteto, tornando-se
lente de desenho geométrico no Liceu de Artes e Ofícios e no Colégio dos órfãos
de S. Joaquim. Era um republicano, liberal, abolicionista, assinou o manifesto
de republicano de 1870, da Sociedade Libertadora Sete de Setembro. Fundou os jornais
"A Província" e "O Trabalho" em defesa dos ideais
republicanos e abolicionistas.. Escreveu para a "Gazeta da Tarde" uma
série de artigos sobre a extinção do elemento servil. Tornou-se um verdadeiro
líder da classe, em campanhas memoráveis pelas causas trabalhistas e operárias.
Foi escolhido para a Câmara Municipal. Funcionário publica
exerceu o cargo de No seu modesto de 3°.
Oficial da Secretaria da Agricultura, sendo preterido nas promoções Dedicou-se aos estudos históricos, e a pesquisa e registro das contribuições dos Africanos ao
crescimento do Brasil. Publicou em 1906, Os artistas Bahianos, na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, entre 1908 a 1914 realizou estudos também publicados na mesma revista. Querino foi o primeiro brasileiro a estudar as contribuições africanas no
Brasil. reformado em 1916 foi para no Matatú Grande, com sua família.
No mesmo ano participou do 5. ° Congresso Brasileiro de Geografia na Bahia, cujas anais contém A raça africana e os seus costumes (294 páginas), e publicou A Bahia de outrora--Vultos e Fatos Populares; (310 páginas). Morando numa comunidade de descendência Africana, conhecia seus costumes, suas pesquisas se baseiam em informações de afro-brasileiros idosos Chamou a atenção dos oficiais municipais às perseguições existentes aos praticantes das religiões Afro-baianos. Historiadores certamente devem muito a Querino. Ele preservou informações sobre as artes, artistas e artesões da Bahia. sendo essencial fonte e para o estudo de História Social, com s informações sobre costumes, cultura e religião. Em seu ensaio o O Colono Preto como Fator da Civilização Brasileira(Anais do 6.º; Congresso Brasileiro de Geografia, 1918) no qual busca as origens da cultura brasileira.
No mesmo ano participou do 5. ° Congresso Brasileiro de Geografia na Bahia, cujas anais contém A raça africana e os seus costumes (294 páginas), e publicou A Bahia de outrora--Vultos e Fatos Populares; (310 páginas). Morando numa comunidade de descendência Africana, conhecia seus costumes, suas pesquisas se baseiam em informações de afro-brasileiros idosos Chamou a atenção dos oficiais municipais às perseguições existentes aos praticantes das religiões Afro-baianos. Historiadores certamente devem muito a Querino. Ele preservou informações sobre as artes, artistas e artesões da Bahia. sendo essencial fonte e para o estudo de História Social, com s informações sobre costumes, cultura e religião. Em seu ensaio o O Colono Preto como Fator da Civilização Brasileira(Anais do 6.º; Congresso Brasileiro de Geografia, 1918) no qual busca as origens da cultura brasileira.
Querino foi esquecido
sendo suplantado pelo romantismo e pela visão braça de Gilberto Freire. Cuja
influencia até hoje marca a visão da escravidão com o algo menos cruel do que foi.
Por último ao autor entrevista Zezé Macedo e seu herói Abdias do Nascimento.
Abdias do
Nascimento(1914-1911) político e ativista social brasileiro. Foi um dos maiores defensores da
defesa da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil. Diplomou-se
em contabilidade em 1929 e em ciências econômicas pela Universidade
do Rio de Janeiro em 1938 Concluiu o curso de sociologia no Instituto Superior
de Estudos Brasileiros em 1956. Foi . Diretor e fundador do Teatro Experimental
do Negro qual dirigiu de 1944 a 1968
Participou da fundação do Partido Trabalhista Brasileiro. Foram um dos o
organizadores do primeiro Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. Exilou-se durante o Golpe de 1964 voltou em 978 quando
fundou o. Movimento Negro Unificado >Em 1980, com Leonel Brizola – foi um
dos fundadores do Partido Democrático Trabalhista (PDT)sendo seu vice-presidente No ano seguinte fundou o Instituto de Pesquisas
e Estudos Afro-Brasileiros(IPEAFRO), na Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Em 1982 concorreu à Câmara dos
Deputados pelo Rio de Janeiro, obtendo a terceira suplência da legenda. Com a
nomeação do deputado José Maurício para a Secretaria de Minas e Energia, Abdias
assumiu em março de 1983 uma cadeira na Câmara. . Sua atuação como deputado foi
centrada na defesa dos direitos humanos e civis dos negros no Brasil. s
iniciativas de Abdias tiveram desdobramento durante as discussões da Assembleia
Nacional Constituinte. Com a nova Carta, promulgada em outubro de 1988, o
direito brasileiro passou a contemplar a natureza pluricultural e multiétnica
do país, a prática de racismo tornou-se um crime inafiançável e determinou-se
pela primeira vez a demarcação das terras dos remanescentes de quilombos,
antigas comunidades de escravos. Abdias foi um dos responsáveis pela
instituição da Comissão do Centenário da Abolição em 1988 e por seu
desdobramento na Fundação Cultural Palmares. Foi senador substituindo Darcy
ribeiro em 1997 -1999. O quilombismo: documentos de
uma militância pan-africanista foi sua principal
obra. Entrevistado por Gates foi incisivo quanto à falsidade do mito da democracia racial brasileira ao afirmar que:
Tudo
isso são invencionices A escravidão aqui foi violenta, sangrenta. Por favor
entenda que eu digo isso com profundo ódio ,com
muita amargura com relação a for,ma como os negros são tratados no
Brasil.Porque é uma vergonha que o Brasil tenha uma maioria de negros,que constituiu esses pais ,mas
continuam até hoje a ser tratados como cidadãos de segunda categoria .
Depois
de reclamar contra os desconhecimento que foi submetido pela educação na
ignorância de seus desuses e de sua cultura completa: “Fui o primeiro senador
consciente de ser negro.”.
A
seguir entrevistou MV Bill, o mais importante rapper brasileiro nascido e
criado na Cidade de Deus que apesar de rico, continua morando lá por seus
vínculos com a comunidade. Repete em
síntese o que diz Abdias em relação ao
mito da democracia racial
Qualquer pessoa
nota que isso é uma mentira quando vê a cor das pessoas que estão nas cadeias, à
cor das pessoas que cometem crimes para sobreviver. As pessoas vão dizer que n
osso problema aqui no Brasil é econômico ou social ,que é tudo menos racial.
Nunca é racial.Mas é
Na
música a voz do excluído diz MV Bill:
Nascido e criado na CDD
Nascido preto e perseguido até morrer
Me ver na prisão é o desejo da madame
Mas eu não tenho AP de 1 milhão em Miami
Comprado e mobiliado com dinheiro do povo
Nascido preto e perseguido até morrer
Me ver na prisão é o desejo da madame
Mas eu não tenho AP de 1 milhão em Miami
Comprado e mobiliado com dinheiro do povo
(continua)