sexta-feira, 18 de outubro de 2013

RUMO LIBERDADE TRAJETÓRIAS DOS ANTIGOS ESCRAVOS NA SERRA GAÚCHA




CONSIDERAÇÕES INICIAIS

            Antes da abolição da escravidão eram dois os caminhos da liberdade um servindo na guerra no lugar dos senhores ou em quilombos onde tomavam parte na resistência . Após a libertação os antigos escravos seguiram  caminhos definidos rumo à liberdade o mundo do trabalho e o da contravenção.
            O rumo da liberdade começa no lugar onde vivia o escravo. A meta é a  liberdade ,o destino a sobrevivência . Se o trajeto inicia no local da escravização o término pode ser  muitos lugares,em geral distantes do lugar de   origem.  O ponto de  chegada pode ser o quilombo, outras fazendas, povoações, cidades. De forma geral a direção seguida pelos libertos  dependia de onde estavam situados os lugares da escravidão.
     O escravo sempre nutriu o desejo de encontrar a liberdade. Essa liberdade tardou a vir na maioria dos casos forçando os cativos a buscarem formas de se libertarem das correntes da escravidão. A liberdade, acenada pelos senhores quando substituídos na guerra, muitas vezes ficou em promessa não cumprida. O primeiro caminho de fato na busca de liberdade foi o da resistência nos quilombos. Nas regiões menos habitadas como da Serra e em suas encostas vários quilombos foram organizados aproveitando-se do meio natural,marcada pela mata e pelo  isolamento.
A situação muda com a abolição onde os ex-escravos rumam à liberdade buscando espaços de trabalhos nas fazendas como diaristas, nas cidades em obras públicas ou em outras atividades que lhes pudesse garantir minimamente a sobrevivência. Essa apresentação integra o projeto Negros na Serra desenvolvido na Universidade de Caxias do Sul. O objetivo dessa comunicação é de analisar em primeiro lugar o caminho dos escravos rumo aos quilombos e a trajetória dos libertos  na  Serra Gaúcha,não pretende aprofundar a questão, mas pontuar  como se deu o trânsito de negros, escravos ou libertos, na região da Serra gaúcha.     

            Alguns temas clássicos da historiografia brasileira ainda merecem atenção dos historiadores. Nesse rol estão abordagens em torno da industrialização no Brasil, a questão dos movimentos operários e sociais e a questão da escravidão. Se esses temas eram candentes nos anos 50 a 80, numa perspectiva notadamente marxista, nos períodos seguintes eles passaram a ser tratados a partir de novas abordagens teóricas e metodológicas. Essa pluralização das análises responde a dois fenômenos: de uma lado a influência de novos paradigmas para a  história e, de outro, a proliferação dos programas de pós-graduação e dos centros de pesquisa que passaram e dar visibilidade a novas fontes documentais.
            No Rio Grande do Sul o tema escravidão foi e continua sendo trabalhado por pesquisadores que problematizam a questão buscando novos olhares para o passado. Na esteira desse processo, novos enfoques tem buscado aproximar grandes temas da historiografia gaúcha com o da escravidão e da colonização européia do século XIX. São representativos desse movimento os esforços de pesquisa  relativas a essa aproximação em universidades em áreas tradicionais da colonização alemã e italiana. Não se trata de uma exaustão do tema imigração e colonização, mas uma tentativa de ampliar as abordagens para além dos limites da Antiga Região Colonial. Sujeitos históricos distanciados como colonos e escravos pelas matrizes explicativas da historiografia gaúcha recentemente aparecem juntos numa mesma tentativa de abordar a história do Brasil meridional.
            A presença escrava em áreas de colonização, ou seja, nas regiões de terras devolutas segundo o entendimento oficial do século XIX, não é expressivo. As razões são conhecidas – proibições oficiais pós 1850. No entanto não se pode negar a presença negra em áreas de colonização e nem mesmo que descendentes de alemães e italianos tivessem escravos.

QUILOMBO O PRIMEIRO CAMINHO
          O primeiro caminho dos escravos no Brasil rumo à liberdade foi o quilombo. No Rio Grande do Sul formaram-se muitos núcleos de resistência principalmente nas regiões mais isoladas da Serra e em sua encosta. Marcas  desse primeiro caminho a liberdade continuam existindo. Segundo a  Federação das Associações das Comunidades Quilombolas do Rio Grande do Sul informa que existem mais de 130 comunidades quilombolas em território gaúcho mas com  outro caráter e outro sentido.(Internet)
 A manutenção de tais associações representa uma permanência que merece ser refletida. Eles se concentram, segundo a mesma fonte, no litoral riograndense do sul (municípios de São José do Norte, Mostardas, Tavares e Palmares do Sul); a região central (municípios de Restinga Seca, Formigueiro e entorno); e a Serra do Sudeste, a oeste da Laguna dos Patos. A região metropolitana de Porto Alegre abriga pelo menos seis quilombos urbanos, ou seja, as regiões onde o  número de escravos foi maior parece ter havido mais escravos.Na região serrana também havia muitos escravos o que pode ser comprovado pelos registros de batismo e de compra e venda de escravos .
Quem eram os quilombolas?  Onde se localizavam os quilombos ?           
De uma forma geral os moradores dos quilombos tinham duas origens os escravos das fazendas e soldados  desertores das forças militares ,sejam regionais ou imperiais.  Weimer ao tratar da escravidão no Rio Grande do Sul aponta para o aumento extraordinário dos escravos na Província após 1850  eram escravos urbanos  e rurais.O aumento de 60%(WEIMER, 1994, p41) nas fugas na segunda metade do século XIX  prova  que os escravos conheciam seus direitos , que começam a ser reconhecidos a partir da proibição do tráfico.Os escravos buscaram os quilombos como forma de resistência e de liberdade.
             Segundo Moura havia sete quilombos no Rio Grande do Sul, que seriam os do negro Lúcio situado na ilha dos Marinheiros (Guaiba) ; o do Arroio (em Arroio dos Ratos) ; o da serra de Tapes; o de Manuel Padeiro; o de Rio Pardo; o da Serra do distrito de Couto; o de Montenegro. (internet)  Na historiografia e na documentação levantadas constatou-se que  essas concentrações eram bem mais numerosas. Há indícios inclusive de que quando os quilombos deixaram de existir seus  nomes foram   guardados  nas memória dos habitantes  e na toponímia da região .Sinais evidentes de sua importância .
Muito dos antigos  quilombos foram abandonados  por total impossibilidade de se sobreviver nessa situação. Exemplo disso,  na região serrana, “Morro dos Baianos, Cerro dos Baianos, Quilombo dos Baianinhos ou ainda Morro do Céu, como é conhecido atualmente, trata-se de uma montanha de origem  basáltica  com altitude de 530  metros aproximadamente, que se localiza em Cotiporã.” (MINOSSO,2007,p.24 ) No inicio do século XX viviam da agricultura  cerca de 20 famílias provenientes da Bahia . Seu líder  era o patriarca “Ezequiel Gonçalves da Cruz, conhecido como “o velho perna de pau”,  casado com Angélica Gonçalves da Cruz. Tiveram sete filhos: Antônio, José, Albino, Olívio, Ezequiel, Angélica e Maria.”(Idem p.26)
                    Mal visto pelo povo da região o grupo se dispersou, não existindo remanescentes de sua passagem. Outro quilombo pode ter existido nas proximidades da antiga fazenda da Pratinha, em Nova Prata, nas terras da sesmaria de Placidina Vieira de Araújo, grande proprietária da região. Reconhecido como comunidade quilombola ainda  “moram no local cinco famílias descendentes do casal Paula  Gonçalves dos Santos e de Pedro Gonçalves dos Santos.”(Idem  ) Paulina era natural de Guaporé, negando ser  originária do  grupo do morro dos Baianos. Em 1999, ela conseguiu o  registro de  12,5 hectares do  lote 17 da Fazenda da Pratinha, pertencentes ao estado do Rio Grande do Sul. Apesar de negar  o parentesco ao casar com Pedro Gonçalves dos Santos,  ligou-se  ao grupo dos “baianos” visto que o pai de seu marido Luis Neves, era conhecido como Luis Baiano.
Um quilombo citado por Weimer(2008 ,p. ver) chamado  São Roque também existiu na serra, tendo sido formado por escravos fugidos das fazendas  serranas dos Fogaça, Nunes e  Monteiros. Em Criúva pertencente antigamente ao município de São Francisco de Paula, (atual  distrito de Caxias do Sul), há um local  chamado Quilombo, onde outrora viviam negros, mas na região deles já não restam descendentes. Em pesquisa realizada em 2005 pelo Projeto encontrou-se apenas lembranças da existência de um grupo de negros que se dispersou. A última sobrevivente que permanecera no local havia falecido no ano anterior aos 103 anos.    
   Alguns quilombos outros se mantiveram, entre eles o da Mormaça     situado ao norte do Estado, comunidade negra formada por 18 famílias. O grupo que vive na região há cerca de 150 anos, em propriedade de 15 hectares comprada por uma ex-escrava de nome Mormaça. O grupo vive da agricultura cercado por colonos de origem italiana das colônias de Araújo e Miranda, com os quais estabelecem relações difíceis.
Em 1843 foi feita a solicitação à Câmara de Vereadores de Santo Antônio da Patrulha designação de  um capitão de mato por proprietários de São Francisco  de Paula região dos  Campos de Cima da Serra. Segundo Alves nova solicitação foi feita em  1845  quando

Compareceu nesta Câmara José Cardoso de Oliveira, Capitão do Mato do Distrito de São Francisco de Paula de Cima da Serra ,pedindo que lhe passa se nova provisão visto a que tem estar findo o prazo por que foi assinada.Deliberou-se que se lhe passa se nova Provisão (ALVES, 2010 ,p. 62)

Segundo a mesma fonte outra solicitação foi encaminhada em 1850, sendo então nomeado Capitão do Mato Antônio Correia dos Santos ,bem como de soldados não pertencentes ao serviço ativo da Guarda nacional para auxiliá-lo na captura de escravos fugidos. Tais nomeações são sinais evidentes da existência de número apreciável de escravos fugidos  e boa a remuneração que os perseguidores recebiam pela capturas  realizadas.
Deveriam existir outros quilombos na região serrana, falta muito para ser levantado, pois  as  pesquisas estão  começando .
           

QUANTOS ERAM OS LIBERTOS?

         Ao que tudo indica havia na época da abolição  no Brasil havia cerca de 800 mil escravos  Em São Paulo Segundo Florestan o autor, haveria 397.131 negros e mestiços, que representariam  cerca de 28,6% da população paulista. Contudo, esta população também  tendia diminuir uma vez que as imigrações européias, alteraram a composição da população. Grande parte dessas pessoas vivia na zona rural onde estavam 90% dos paulistas.Ex-escravos, imigrantes e demais brasileiros engrossavam o contínuo fluxo migratório da zona rural em direção à cidade, criando   intensa teria de relações  sociais. (ANDREWS, 1998, p. 93-98)
No Rio Grande do Sul o número de escravos reduziu com o tempo, após 1870 quando a  exportação gaúcha de escravos se torna a maior do Brasil  e a tendência é de redução  no número. Em 1872, os resultados do Censo, excluídos os habitantes de quatro paróquias, davam ao Rio Grande do Sul uma população de 434.813 almas. Os pretos constituíam 18,28% e os pardos 16,32 % e os brancos 59,43% da população, ou seja, haveria ainda na Província cerca de 80 mil escravos.
            A substituição de mão-de-obra escrava pela livre, determinadas pelas leis que terminaram de forma gradativa com a escravidão contribuiu para acelerar a vinda de colonos estrangeiros, indispensáveis para garantir a produção agrícola regional, o que contribuiu para o aumento da população branca. Dessa forma, em pouco mais de 90 anos, o percentual da população negra baixou de 50 % à pouco menos de 20% do total da população. O número de escravos diminuiu de foram gradativa , em parte foi devido à guerras platinas  em parte devido ao aumento das fugas em massa dos escravos após 1850 . ”Ocorreu o incremento de 60% nas fugas em relação há 15 anos antes, talvez por consequência da guerra”(WEIMER,1994  p.41) 
No censo de 1890, a população do estado dobrara, tinha 897.455 habitantes, distribuídos em 63 municípios, sendo que, destes, 459.418 eram homens e 438.337 mulheres. “Ao fim do império, a distribuição percentual da população era a seguinte: brancos 70,17%; pretos 8,68%; caboclos 5,35% e mestiços 15,80%.”(Diretoria de estatística, 1908p.81)
      Se for calculado o número de negros e mestiços recenseados após a abolição o número de escravos  existentes se aproximaria dos 25 mil . Mas ainda mais nebuloso que  o  número  de  escravos libertos no  Rio Grande do Sul é o dos escravos que restaram  nos campos da  Serra no mesmo período , mas ao que tudo indica pode  se aproximar de 2 ,5 mil .
           Para os dias de hoje o número de escravos deixados sem auxílio pode parecer pequeno, mas na época um exército de 800 mil  desabrigados  era  apreciável. A questão para o governo era de como ocupar tais pessoas num mundo eminentemente rural. O governo brasileiro decidiu pelo mais fácil, ou seja, não fazer nada. O mesmo propósito seguiu o governo estadual .
  
            TRABALHO OU CONTRAVENÇÃO?
Não é possível determinar com certeza o aconteceu em 1888 com os escravos  libertos do Brasil, no Rio Grande ou na Serra. Há mais hipóteses do que certezas. Os indícios podem ser encontrados nas memórias, nos processos judiciais, nas noticias de jornais, e esses levam a crer que houve uma hecatombe social, segundo a quais antigos escravos corriam das fazendas em busca das cidades em busca de sobrevivência causando desordens e crimes. A debandada de escravos tornou-se um problema nacional que repercutiu até no Parlamento Brasileiro em geral avesso às questões sociais, que registra em seus Anais que

Os escravos fugiram em massa, prejudicando não só os grandes interesses econômicos, mas também interesses de segurança pública: houve mortes, houve ferimentos, houve invasão de localidades, houve o terror derramado por todas as famílias, e aquela importante província durante muitos meses permaneceu no terror mais aflitivo. Felizmente os proprietários de São Paulo, compreenderam que, diante da inação da Força Pública, melhor seria capitularem perante a desordem, e deram liberdade aos escravos.(Internet)

Os negros apesar da diferença de conceito de trabalho que os africanos tem em relação a dos europeus buscaram o trabalho, como bem destaca Costa

A idéia de que o negro não trabalha ou de que não tem organização perpassa  a cultura italiana como comprova Bernardi(1937) em Nanetto Pipetta que retrata a vida e o pensar dos primeiros imigrantes italianos. A situação de escravidão tornou o negro sujeito a outra experiência cultural para a qual o conceito de trabalho e de economia difere do italiano. (COSTA,1982, p.108)



Muitos foram os trabalhos realizados pelos negros na Serra após a abolição.Para a maior parte dos escravos que viviam nas fazendas o caminho parece ter sido o mesmo em todas as regiões, ou seja,  a debandada em direção às cidades

 Grande parte dos libertos, depois de perambular por estradas e baldios, dirigiu-se às grandes cidades: Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Lá, ergueram os chamados bairros africanos, origem das favelas modernas. Trocaram a senzala pelos casebres. Apesar da impossibilidade de plantar, acharam ali um meio social menos hostil, mesmo que ainda miserável “(Internet).

Se antes da abolição o caminho da liberdade era a contravenção representada pelo quilombo, após a abolição outros rumos poderiam ser traçados.  Na busca de novos caminhos não puderam contar com o apoio governamental ou privado, já que as associações abolicionistas deixaram de atuar após a sua libertação oficial. Deixados à sua própria sorte os recém libertos  buscaram dois grandes rumos:o do trabalho e o da contravenção. Segundo os casos encontrados na região continuaram em economia de subsistência, na qual já estavam envolvidos antes da liberdade.
            O caminho começava no lugar onde viveram aprisionados.  Os que viviam e atuavam nas cidades, em vez de trabalharem para os donos como vendedores ambulantes ou alugados por eles para serviços variados devem ter permanecido na cidade, sua presença é atestada nos jornais da época. O mesmo parece ter ocorrido com os escravos que prestavam que trabalhavam nas casas de seus donos na zona urbana ou na zona rural, podem ter se mantido as mesmas atividades, porém na condição de trabalhadores  livres.
            Diversa foi à direção tomada pelos escravos que viviam na zona rural. Pelo número de quilombos registrados  na região fica evidente que muitos deles lá   permaneceram  ,mudando  sua condição de escravos fugidos para homens  livres
            Outros trocaram a miséria da senzala pela dos casebres.  Várias são as fotos do inicio da década de 1890 que revelam as péssimas condições de vida do ex escravos. O mesmo ocorreu na região da Serra do nordeste gaúcho. Mas nem todos os escravos deixaram as fazendas alguns se instalaram em seus limites, outros receberam terras de seus donos Segundo Alves  
O Capitão Narciso José Pacheco, tinha um filho (ilegítimo) havido com uma escrava, de nome José de Freitas Noronha. Com a morte de Narciso, Manoel Machado Pacheco reconheceu o neto que recebeu de herança uma parte da fazenda. Assim, Noronha, tornou-se o primeiro descendente de escravo com propriedade na região( ALVES, 2010,p55)
 
Poucos foram os casos de filhos de senhores e de escrava que foram reconhecidos como filhos. Ainda menor foi o número daqueles que receberam terras, nem todos os  filhos de fazendeiros tiveram a sorte de Noronha. A maioria dos escravos buscou trabalho em fazendas vizinhas  oferecendo-se como jornaleiros. Outros procuraram vilas próximas.
 Muitos chegaram a lugares improváveis  as antigas colônias de  Alfredo Chaves e Caxias . Ao se instalarem próximos a essas n povoações agruparam-se em regiões altas  desabitadas em locais próximos ao centro ,em geral em morros desabitados . As favelas assim formadas recebiam o nome de África. Nelas passaram a viver os antigos escravos provenientes das fazendas de criação de gado situadas nas proximidades das antigas colônias povoadas por imigrantes europeus As vilas coloniais não eram estranhas aos ex escravos, muitos deles haviam sido  tropeiros das fazendas e conheciam a região.
            Os tropeiros muitas vezes viajavam sozinhos, sem donos ou capatazes seguindo  a antiga estrada Provincial, aberta na década de 1870 ,que ligava os Campos de Cima da Serra ao rio Caí no Porto de Guimarães; ou  a Estrada  Buarque de Macedo que ligava região dos  campos com o vale do Cai em São João de Montenegro,  passando por Alfredo Chaves, Dona Isabel e Conde d”Eu. Tais caminhos mais tarde, se tornaram a rota dos  imigrantes.Com a demarcação  e o povoamento das colônias mais caminhos foram abertos  por eles passavam mais tropeiros que  em geral, eram antigos escravos  de a muito acostumados a essa atividade . Muitos foram os tropeiros que se estabeleceram nas antigas  colônias.
 Em Caxias o principal agrupamento de negros ficava situado no Burgo. Onde vivem ainda muitos de seus descendentes. Outro  foi    o Buraco Quente  e a Zona do Cemitério ,situados próximo do centro atual da cidade.  Em Bento Gonçalves os negros se reuniram na favela chamada Divinéia , próxima da Cidade Alta
Alguns ex escravos entraram para a  Brigada Militar do Rio Grande do Sul , foi fundada em 1837, em plena guerra civil Farroupilha , e que desde o seu  inicio  os aceitou.Assim muitos deles entraram naquela corporação.Alguns foram  enviados  para a Serra.  A  força era pequena  e, portanto pequeno também  foi pequeno o número de brigadianos que se fixaram na região.
            Além de tropeiros e de soldados  os antigos escravos  se tornaram como trabalhadores braçais, ajudaram na abertura de estradas e,mais tarde na construção da estrada  de ferro . Nas fotos do período da abertura da ferrovia grande número de negros esta presente.
A estrada de ferro prometida em 1875, nem o fim do Império, nem o inicio da República resolveram o grave  problema dos transportes das antigas colônias.O projeto só saiu do papel
 na primeira década do século XX .A estrada de ferro chegou a Caxias em 1910, em Bento Gonçalves em 1919. Muitos trabalhadores negros chegaram na serra com a estrada de ferro e alguns nela passaram a residir.
 Nem todos os antigos escravos entraram para o mundo do trabalho,alguns  buscaram o da contravenção .
Weimer  apresenta  dados que revelam que as regiões de imigração alemã e italiana foram as principais consumidoras do gado roubado de São Francisco de Paula, atividade realizada por antigos escravos juntamente  com homens  livres. Revela ainda que os alemães participavam de forma  ativa de  negócios escusos, tendo como  centro em  3 Forquilhas. Muitos eram roubos políticos, porém a maioria era de roubos comuns. Entre os roubos políticos estão os realizados por José Pacheco Horn,   Manoel Marques Negrinho e outros na fazenda de Dona Bernardina Batista de Almeida Soares, esposa de Felisberto B. de Almeida Soares da qual, foram roubadas 130 cabeças de gado . (WEIMER,2008,p.168 ) O que revela  a existência de capangas das forças castilhistas nas fazendas,  não como assalariados mas  sem salário fixo e presumível que locupletam-se das vacas gordas de seu patrão.
Havia quadrilhas especializadas em abigeatos que percorriam as colônias  vendendo gado roubado ,das quais ex escravos  faziam parte delas faziam parte  também lusos e alemães

     São freqüentes os nomes alemães entre os participantes das quadrilhas. Além dos Gross, também foram indiciados indivíduos que atendiam, por exemplo, por Burg,Hoffman,Shwartz e Horn. Alguns tinham situação razoável para a sociedade de então.(Idem. 170)

No começo do século XX não eram incomuns incidentes envolvendo negros  e brancos , podem ser encontrados jornais . Guerino Zugno entrevistado em 1955 por Azevedo informou que: “ os colonos não gostam dos negros por causa dos crimes de homicídio ,raptos de moças e emboscadas “(AZEVEDO,1994,p.162).
Mas não é só no depoimento de Zugno que a contravenção se faz presente. O jornal A Encrenca de  relata um crime ocorrido em Caxias 15 de outubro de 1914

Na manhã de quarta feira última ,quando o senhor Angelo Muratori, na qualidade de sub-intendente interino do 1º distrito,pretendia na rua Sinimbu,neste cidade  efetuar a prisão de um desconhecido indivíduo de cor mixta,sobre quem pesava a suspeita de ter praticado furtos,foi pelo mesmo mortalmente ferido com um tiro de pistola ,vindo a falecer.(Encrenca,1914,p2)

Outra notícia citada por Azevedo no dia 22 de julho de 1915,relata  um crime  ocorrido em Nova Vicenza . Segundo a nota um colono e um negro haviam bebido juntos   num bar  com um negr,o colono  deu uma carona para ele em sua carreta; ao descer para examinar uma  roda que estava com um problema foi morto e roubado. Logo o negro foi preso.(AZEVEDO, 1994, p.327)


Diante do ocorrido não é possível descartar a hipótese que a contravenção algumas vezes pode ter sido causada pelo preconceito. Nos dois  casos de crime relatos nos jornais parece haver   indícios de motivos raciais.O que leva a concluir que nem sempre era  fácil para os negros achar trabalho no mundo dos brancos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A liberdade ao que tudo indica foi enganosa .Algumas vezes levou os antigos escravos a outro tipo de prisão ,não a do senhor mas a do Estado.
 Há muito que pesquisar sobre a temática. Muitos arquivos e jornais deverão ainda ser levantados para poder traçar de forma mais precisa possível os indícios  dos caminhos seguidos da escravidão á liberdade.
REFERÊNCIAS
A Encrenca , Caxias 18 de outubro de 1914
ALVES, Luís Antônio .Criúva:Um povoado brasileiro.Porto Alegre: Evangraf, 2010
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AZEVEDO, Tales de. Os italianos no rio grande do sul- cadernos de pesquisa cCaxias do sul EDUCS. 1994 .
COSTA ,Rovilio ,BATTISTEL, Arleindo Assim Vivem os Italianos.Porto Alegre:Est, 1982.
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WEIMER, Rodrigo de Azevedo. Os nomes da  liberdade.Ex escravos na serra gaúcha no pós abolição.São Leopoldo, Unisinos,  2008.

WEIMER, Günter. O Trabalho Escravo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. Ufrgs, 1991.

PICCOLO,Helga I.Landgraf. Coletânea de discursos parlamentares da Assembléia Legislativa da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul .Porto Alegre:Assembléia Legislativa do Estado do RS


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