CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
Antes da abolição da escravidão eram
dois os caminhos da liberdade um servindo na guerra no lugar dos senhores ou em
quilombos onde tomavam parte na resistência . Após a libertação os antigos
escravos seguiram caminhos definidos
rumo à liberdade o mundo do trabalho e o da contravenção.
O
rumo da liberdade começa no lugar onde vivia o escravo. A meta é a liberdade ,o destino a sobrevivência . Se o
trajeto inicia no local da escravização o término pode ser muitos lugares,em geral distantes do lugar
de origem. O ponto de
chegada pode ser o quilombo, outras fazendas, povoações, cidades. De
forma geral a direção seguida pelos libertos
dependia de onde estavam situados os lugares da escravidão.
O escravo sempre nutriu o desejo de
encontrar a liberdade. Essa liberdade tardou a vir na maioria dos casos forçando
os cativos a buscarem formas de se libertarem das correntes da escravidão. A
liberdade, acenada pelos senhores quando substituídos na guerra, muitas vezes
ficou em promessa não cumprida. O primeiro caminho de fato na busca de
liberdade foi o da resistência nos quilombos. Nas regiões menos habitadas como
da Serra e em suas encostas vários quilombos foram organizados aproveitando-se
do meio natural,marcada pela mata e pelo isolamento.
A situação muda com
a abolição onde os ex-escravos rumam à liberdade buscando espaços de trabalhos
nas fazendas como diaristas, nas cidades em obras públicas ou em outras atividades
que lhes pudesse garantir minimamente a sobrevivência. Essa apresentação
integra o projeto Negros na Serra desenvolvido
na Universidade de Caxias do Sul. O objetivo dessa comunicação é de
analisar em primeiro lugar o caminho dos escravos rumo aos quilombos e a
trajetória dos libertos na Serra Gaúcha,não pretende aprofundar a questão, mas pontuar como se deu o trânsito de negros, escravos ou
libertos, na região da Serra gaúcha.
Alguns
temas clássicos da historiografia brasileira ainda merecem atenção dos
historiadores. Nesse rol estão abordagens em torno da industrialização no
Brasil, a questão dos movimentos operários e sociais e a questão da escravidão.
Se esses temas eram candentes nos anos 50 a 80, numa perspectiva notadamente
marxista, nos períodos seguintes eles passaram a ser tratados a partir de novas
abordagens teóricas e metodológicas. Essa pluralização das análises responde a
dois fenômenos: de uma lado a influência de novos paradigmas para a história e, de outro, a proliferação dos
programas de pós-graduação e dos centros de pesquisa que passaram e dar
visibilidade a novas fontes documentais.
No
Rio Grande do Sul o tema escravidão foi e continua sendo trabalhado por
pesquisadores que problematizam a questão buscando novos olhares para o
passado. Na esteira desse processo, novos enfoques tem buscado aproximar
grandes temas da historiografia gaúcha com o da escravidão e da colonização
européia do século XIX. São representativos desse movimento os esforços de
pesquisa relativas a essa aproximação em
universidades em áreas tradicionais da colonização alemã e italiana. Não se
trata de uma exaustão do tema imigração e colonização, mas uma tentativa de
ampliar as abordagens para além dos limites da Antiga Região Colonial. Sujeitos
históricos distanciados como colonos e escravos pelas matrizes explicativas da
historiografia gaúcha recentemente aparecem juntos numa mesma tentativa de
abordar a história do Brasil meridional.
A
presença escrava em áreas de colonização, ou seja, nas regiões de terras
devolutas segundo o entendimento oficial do século XIX, não é expressivo. As
razões são conhecidas – proibições oficiais pós 1850. No entanto não se pode
negar a presença negra em áreas de colonização e nem mesmo que descendentes de
alemães e italianos tivessem escravos.
QUILOMBO O PRIMEIRO
CAMINHO
O primeiro caminho dos escravos no
Brasil rumo à liberdade foi o quilombo. No Rio Grande do Sul formaram-se muitos
núcleos de resistência principalmente nas regiões mais isoladas da Serra e em
sua encosta. Marcas desse primeiro
caminho a liberdade continuam existindo. Segundo a Federação das Associações das Comunidades
Quilombolas do Rio Grande do Sul informa que existem mais de 130 comunidades
quilombolas em território gaúcho mas com
outro caráter e outro sentido.(Internet)
A manutenção de tais associações representa
uma permanência que merece ser refletida. Eles se concentram, segundo a mesma
fonte, no litoral riograndense do sul (municípios de São José do Norte,
Mostardas, Tavares e Palmares do Sul); a região central (municípios de Restinga
Seca, Formigueiro e entorno); e a Serra do Sudeste, a oeste da Laguna dos
Patos. A região metropolitana de Porto Alegre abriga pelo menos seis quilombos
urbanos, ou seja, as regiões onde o número de escravos foi maior parece ter havido
mais escravos.Na região serrana também havia muitos escravos o que pode ser
comprovado pelos registros de batismo e de compra e venda de escravos .
Quem eram os
quilombolas? Onde se localizavam os
quilombos ?
De uma
forma geral os moradores dos quilombos tinham duas origens os escravos das
fazendas e soldados desertores das
forças militares ,sejam regionais ou imperiais.
Weimer ao tratar da escravidão no Rio Grande do Sul aponta para o
aumento extraordinário dos escravos na Província após 1850 eram escravos urbanos e rurais.O aumento de 60%(WEIMER, 1994, p41)
nas fugas na segunda metade do século XIX
prova que os escravos conheciam
seus direitos , que começam a ser reconhecidos a partir da proibição do
tráfico.Os escravos buscaram os quilombos como forma de resistência e de
liberdade.
Segundo Moura havia sete quilombos
no Rio Grande do Sul, que seriam os do negro Lúcio situado na ilha dos
Marinheiros (Guaiba) ; o do Arroio (em Arroio dos Ratos) ; o da serra de Tapes;
o de Manuel Padeiro; o de Rio Pardo; o da Serra do distrito de Couto; o de
Montenegro. (internet) Na historiografia
e na documentação levantadas constatou-se que
essas concentrações eram bem mais numerosas. Há indícios inclusive de
que quando os quilombos deixaram de existir seus nomes foram guardados
nas memória dos habitantes e na
toponímia da região .Sinais evidentes de sua importância .
Muito
dos antigos quilombos foram
abandonados por total impossibilidade de
se sobreviver nessa situação. Exemplo disso,
na região serrana, “Morro dos Baianos, Cerro dos Baianos, Quilombo dos
Baianinhos ou ainda Morro do Céu, como é conhecido atualmente, trata-se de uma
montanha de origem basáltica com altitude de 530 metros aproximadamente, que se localiza em Cotiporã.”
(MINOSSO,2007,p.24 ) No inicio do século XX viviam da agricultura cerca de 20 famílias provenientes da Bahia .
Seu líder era o patriarca “Ezequiel
Gonçalves da Cruz, conhecido como “o velho perna de pau”, casado com Angélica Gonçalves da Cruz.
Tiveram sete filhos: Antônio, José, Albino, Olívio, Ezequiel, Angélica e
Maria.”(Idem p.26)
Mal visto pelo povo
da região o grupo se dispersou, não existindo remanescentes de sua passagem.
Outro quilombo pode ter existido nas proximidades da antiga fazenda da
Pratinha, em Nova Prata, nas terras da sesmaria de Placidina Vieira de Araújo,
grande proprietária da região. Reconhecido como comunidade quilombola
ainda “moram no local cinco famílias
descendentes do casal Paula Gonçalves
dos Santos e de Pedro Gonçalves dos Santos.”(Idem ) Paulina era natural de Guaporé, negando
ser originária do grupo do morro dos Baianos. Em 1999, ela
conseguiu o registro de 12,5 hectares do lote 17 da Fazenda da Pratinha, pertencentes
ao estado do Rio Grande do Sul. Apesar de negar
o parentesco ao casar com Pedro Gonçalves dos Santos, ligou-se
ao grupo dos “baianos” visto que o pai de seu marido Luis Neves, era
conhecido como Luis Baiano.
Um quilombo citado por Weimer(2008 ,p. ver) chamado São Roque também existiu na serra, tendo sido
formado por escravos fugidos das fazendas
serranas dos Fogaça, Nunes e
Monteiros. Em Criúva pertencente antigamente ao município de São
Francisco de Paula, (atual distrito de
Caxias do Sul), há um local chamado Quilombo,
onde outrora viviam negros, mas na região deles já não restam descendentes. Em
pesquisa realizada em 2005 pelo Projeto encontrou-se apenas lembranças da
existência de um grupo de negros que se dispersou. A última sobrevivente que
permanecera no local havia falecido no ano anterior aos 103 anos.
Alguns quilombos outros se mantiveram, entre eles o da Mormaça situado ao norte do Estado, comunidade
negra formada por 18 famílias. O grupo que vive na região há cerca de 150 anos,
em propriedade de 15 hectares comprada por uma ex-escrava de nome Mormaça. O
grupo vive da agricultura cercado por colonos de origem italiana das colônias
de Araújo e Miranda, com os quais estabelecem relações difíceis.
Em 1843 foi feita a solicitação à Câmara de Vereadores de Santo Antônio
da Patrulha designação de um capitão de
mato por proprietários de São Francisco de Paula região dos Campos de Cima da Serra. Segundo Alves nova
solicitação foi feita em 1845 quando
Compareceu nesta Câmara José Cardoso de Oliveira, Capitão do Mato do
Distrito de São Francisco de Paula de Cima da Serra ,pedindo que lhe passa se
nova provisão visto a que tem estar findo o prazo por que foi
assinada.Deliberou-se que se lhe passa se nova Provisão (ALVES, 2010 ,p.
62)
Segundo a mesma fonte outra solicitação foi encaminhada em 1850, sendo
então nomeado Capitão do Mato Antônio Correia dos Santos ,bem como de soldados
não pertencentes ao serviço ativo da Guarda nacional para auxiliá-lo na captura
de escravos fugidos. Tais nomeações são sinais evidentes da existência de
número apreciável de escravos fugidos e
boa a remuneração que os perseguidores recebiam pela capturas realizadas.
Deveriam existir outros quilombos na região serrana, falta muito para
ser levantado, pois as pesquisas estão começando .
QUANTOS ERAM OS LIBERTOS?
Ao que tudo indica havia na época da
abolição no Brasil havia cerca de 800
mil escravos Em São Paulo Segundo
Florestan o autor, haveria 397.131 negros e mestiços, que representariam cerca de 28,6% da população paulista.
Contudo, esta população também tendia
diminuir uma vez que as imigrações européias, alteraram a composição da
população. Grande parte dessas pessoas vivia na zona rural onde estavam 90% dos
paulistas.Ex-escravos, imigrantes e demais brasileiros engrossavam o contínuo
fluxo migratório da zona rural em direção à cidade, criando intensa teria de relações sociais. (ANDREWS, 1998, p. 93-98)
No Rio Grande do Sul o
número de escravos reduziu com o tempo, após 1870 quando a exportação gaúcha de escravos se torna a
maior do Brasil e a tendência é de
redução no número. Em 1872, os
resultados do Censo, excluídos os habitantes de quatro paróquias, davam ao Rio
Grande do Sul uma população de 434.813 almas. Os pretos constituíam 18,28% e os
pardos 16,32 % e os brancos 59,43% da população, ou seja, haveria ainda na
Província cerca de 80 mil escravos.
A
substituição de mão-de-obra escrava pela livre, determinadas pelas leis que
terminaram de forma gradativa com a escravidão contribuiu para acelerar a vinda
de colonos estrangeiros, indispensáveis para garantir a produção agrícola
regional, o que contribuiu para o aumento da população branca. Dessa forma, em
pouco mais de 90 anos, o percentual da população negra baixou de 50 % à pouco
menos de 20% do total da população. O número de escravos diminuiu de foram
gradativa , em parte foi devido à guerras platinas em parte devido ao aumento das fugas em massa
dos escravos após 1850 . ”Ocorreu o incremento de 60% nas fugas em relação há 15
anos antes, talvez por consequência da guerra”(WEIMER,1994 p.41)
No
censo de 1890, a população do estado dobrara, tinha 897.455 habitantes,
distribuídos em 63 municípios, sendo que, destes, 459.418 eram homens e 438.337
mulheres. “Ao fim do império, a distribuição percentual da população era a
seguinte: brancos 70,17%; pretos 8,68%; caboclos 5,35% e mestiços 15,80%.”(Diretoria de
estatística, 1908p.81)
Se for calculado o número de negros e mestiços
recenseados após a abolição o número de escravos existentes se aproximaria dos 25 mil . Mas ainda
mais nebuloso que o número de
escravos libertos no Rio Grande
do Sul é o dos escravos que restaram nos
campos da Serra no mesmo período , mas
ao que tudo indica pode se aproximar de 2
,5 mil .
Para os dias de hoje o número de escravos
deixados sem auxílio pode parecer pequeno, mas na época um exército de 800
mil desabrigados era
apreciável. A questão para o governo era de como ocupar tais pessoas num
mundo eminentemente rural. O governo brasileiro decidiu pelo mais fácil, ou
seja, não fazer nada. O mesmo propósito seguiu o governo estadual .
TRABALHO OU CONTRAVENÇÃO?
Não é possível
determinar com certeza o aconteceu em 1888 com os escravos libertos do Brasil, no Rio Grande ou na
Serra. Há mais hipóteses do que certezas. Os indícios podem ser encontrados nas
memórias, nos processos judiciais, nas noticias de jornais, e esses levam a
crer que houve uma hecatombe social, segundo a quais antigos escravos corriam
das fazendas em busca das cidades em busca de sobrevivência causando desordens
e crimes. A debandada de escravos tornou-se um problema nacional que repercutiu
até no Parlamento Brasileiro em geral avesso às questões sociais, que registra
em seus Anais que
Os escravos fugiram em massa, prejudicando não só os grandes interesses
econômicos, mas também interesses de segurança pública: houve mortes, houve
ferimentos, houve invasão de localidades, houve o terror derramado por todas as
famílias, e aquela importante província durante muitos meses permaneceu no
terror mais aflitivo. Felizmente os proprietários de São Paulo, compreenderam
que, diante da inação da Força Pública, melhor seria capitularem perante a
desordem, e deram liberdade aos escravos.(Internet)
Os negros apesar da
diferença de conceito de trabalho que os africanos tem em relação a dos
europeus buscaram o trabalho, como bem destaca Costa
A idéia de que o negro não
trabalha ou de que não tem organização perpassa
a cultura italiana como comprova Bernardi(1937) em Nanetto Pipetta que retrata
a vida e o pensar dos primeiros imigrantes italianos. A situação de escravidão
tornou o negro sujeito a outra experiência cultural para a qual o conceito de
trabalho e de economia difere do italiano. (COSTA,1982, p.108)
Muitos foram os
trabalhos realizados pelos negros na Serra após a abolição.Para a maior parte
dos escravos que viviam nas fazendas o caminho parece ter sido o mesmo em todas
as regiões, ou seja, a debandada em
direção às cidades
Grande parte dos
libertos, depois de perambular por estradas e baldios, dirigiu-se às grandes
cidades: Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Lá, ergueram os chamados bairros
africanos, origem das favelas modernas. Trocaram a senzala pelos casebres.
Apesar da impossibilidade de plantar, acharam ali um meio social menos hostil,
mesmo que ainda miserável “(Internet).
Se antes da abolição o caminho da liberdade era a contravenção
representada pelo quilombo, após a abolição outros rumos poderiam ser traçados.
Na busca de novos caminhos não puderam
contar com o apoio governamental ou privado, já que as associações
abolicionistas deixaram de atuar após a sua libertação oficial. Deixados à sua
própria sorte os recém libertos buscaram
dois grandes rumos:o do trabalho e o da contravenção. Segundo os casos encontrados
na região continuaram em economia de subsistência, na qual já estavam
envolvidos antes da liberdade.
O caminho começava no lugar onde
viveram aprisionados. Os que viviam e
atuavam nas cidades, em vez de trabalharem para os donos como vendedores ambulantes
ou alugados por eles para serviços variados devem ter permanecido na cidade, sua
presença é atestada nos jornais da época. O mesmo parece ter ocorrido com os
escravos que prestavam que trabalhavam nas casas de seus donos na zona urbana
ou na zona rural, podem ter se mantido as mesmas atividades, porém na condição
de trabalhadores livres.
Diversa foi à direção tomada pelos
escravos que viviam na zona rural. Pelo número de quilombos registrados na região fica evidente que muitos deles lá permaneceram
,mudando sua condição de escravos
fugidos para homens livres
Outros trocaram a
miséria da senzala pela dos casebres.
Várias são as fotos do inicio da década de
1890 que revelam as péssimas condições de vida do ex escravos. O
mesmo ocorreu na região da Serra do nordeste gaúcho. Mas nem todos os escravos
deixaram as fazendas alguns se instalaram em seus limites, outros receberam
terras de seus donos Segundo Alves
O Capitão Narciso José Pacheco, tinha um filho
(ilegítimo) havido com uma escrava, de nome José de Freitas Noronha. Com a
morte de Narciso, Manoel Machado Pacheco reconheceu o neto que recebeu de
herança uma parte da fazenda. Assim, Noronha, tornou-se o primeiro descendente
de escravo com propriedade na região( ALVES, 2010,p55)
Poucos
foram os casos de filhos de senhores e de escrava que foram reconhecidos como
filhos. Ainda menor foi o número daqueles que receberam terras, nem todos os filhos de fazendeiros tiveram a sorte de
Noronha. A maioria dos escravos buscou trabalho em fazendas vizinhas oferecendo-se como jornaleiros. Outros procuraram
vilas próximas.
Muitos chegaram a lugares improváveis as antigas colônias de Alfredo Chaves e Caxias . Ao se instalarem
próximos a essas n povoações agruparam-se em regiões altas desabitadas em locais próximos ao centro ,em
geral em morros desabitados . As favelas assim formadas recebiam o nome de
África. Nelas passaram a viver os antigos escravos provenientes das fazendas de
criação de gado situadas nas proximidades das antigas colônias povoadas por
imigrantes europeus As vilas coloniais não eram estranhas aos ex escravos, muitos
deles haviam sido tropeiros das fazendas
e conheciam a região.
Os
tropeiros muitas vezes viajavam sozinhos, sem donos ou capatazes seguindo a antiga estrada Provincial, aberta na década
de 1870 ,que ligava os Campos de Cima da Serra ao rio Caí no Porto de
Guimarães; ou a Estrada Buarque de Macedo que ligava região dos campos com o vale do Cai em São João de
Montenegro, passando por Alfredo Chaves,
Dona Isabel e Conde d”Eu. Tais caminhos mais tarde, se tornaram a rota dos imigrantes.Com a demarcação e o povoamento das colônias mais caminhos
foram abertos por eles passavam mais
tropeiros que em geral, eram antigos
escravos de a muito acostumados a essa
atividade . Muitos foram os tropeiros que se estabeleceram nas antigas colônias.
Em Caxias o principal agrupamento de negros
ficava situado no Burgo. Onde vivem ainda muitos de seus descendentes.
Outro foi o Buraco Quente e a Zona do Cemitério ,situados próximo do
centro atual da cidade. Em Bento
Gonçalves os negros se reuniram na favela chamada Divinéia , próxima da Cidade
Alta
Alguns
ex escravos entraram para a Brigada Militar
do Rio Grande do Sul , foi fundada em 1837, em plena guerra civil Farroupilha ,
e que desde o seu inicio os aceitou.Assim muitos deles entraram
naquela corporação.Alguns foram
enviados para a Serra. A força era pequena e, portanto pequeno também foi pequeno o número de brigadianos que se
fixaram na região.
Além de tropeiros e de soldados os antigos escravos se tornaram como trabalhadores braçais,
ajudaram na abertura de estradas e,mais tarde na construção da estrada de ferro . Nas fotos do período da abertura
da ferrovia grande número de negros esta presente.
A estrada de ferro
prometida em 1875, nem o fim do Império, nem o inicio da República resolveram o
grave problema dos transportes das
antigas colônias.O projeto só saiu do papel
na primeira década do século XX .A estrada de
ferro chegou a Caxias em 1910, em Bento Gonçalves em 1919. Muitos trabalhadores
negros chegaram na serra com a estrada de ferro e alguns nela passaram a
residir.
Nem todos os antigos escravos entraram para o
mundo do trabalho,alguns buscaram o da
contravenção .
Weimer apresenta dados que revelam que as regiões de imigração
alemã e italiana foram as principais consumidoras do gado roubado de São
Francisco de Paula, atividade realizada por antigos escravos juntamente
com homens livres. Revela ainda que os alemães participavam de
forma ativa de negócios escusos,
tendo como centro em 3 Forquilhas.
Muitos eram roubos políticos, porém a maioria era de roubos comuns. Entre os
roubos políticos estão os realizados por José Pacheco Horn, Manoel
Marques Negrinho e outros na fazenda de Dona Bernardina Batista de Almeida Soares,
esposa de Felisberto B. de Almeida Soares da qual, foram roubadas 130 cabeças
de gado . (WEIMER,2008,p.168 ) O que revela a existência de capangas das
forças castilhistas nas fazendas, não
como assalariados mas sem salário fixo e
presumível que locupletam-se das vacas gordas de seu patrão.
Havia quadrilhas especializadas em abigeatos que
percorriam as colônias vendendo gado
roubado ,das quais ex escravos faziam
parte delas faziam parte
também lusos e alemães
São freqüentes os nomes
alemães entre os participantes das quadrilhas. Além dos Gross, também foram
indiciados indivíduos que atendiam, por exemplo, por Burg,Hoffman,Shwartz e
Horn. Alguns tinham situação razoável para a sociedade de então.(Idem. 170)
No começo do século XX não eram incomuns incidentes envolvendo negros e brancos , podem ser encontrados jornais . Guerino
Zugno entrevistado em 1955 por Azevedo informou que: “ os colonos não gostam
dos negros por causa dos crimes de homicídio ,raptos de moças e emboscadas “(AZEVEDO,1994,p.162).
Mas não é só no depoimento de Zugno que a contravenção se faz presente.
O jornal A Encrenca de relata um crime
ocorrido em Caxias 15 de outubro de 1914
Na manhã de quarta feira última ,quando o senhor Angelo Muratori, na
qualidade de sub-intendente interino do 1º distrito,pretendia na rua Sinimbu,neste
cidade efetuar a prisão de um
desconhecido indivíduo de cor mixta,sobre quem pesava a suspeita de ter
praticado furtos,foi pelo mesmo mortalmente ferido com um tiro de pistola
,vindo a falecer.(Encrenca,1914,p2)
Outra notícia citada por Azevedo no dia 22 de julho de 1915,relata um crime
ocorrido em Nova Vicenza . Segundo a nota um colono e um negro haviam
bebido juntos num bar com um negr,o colono deu uma carona para ele em sua carreta; ao
descer para examinar uma roda que estava
com um problema foi morto e roubado. Logo o negro foi preso.(AZEVEDO, 1994, p.327)
Diante do ocorrido não é possível descartar a hipótese que a
contravenção algumas vezes pode ter sido causada pelo preconceito. Nos
dois casos de crime relatos nos jornais
parece haver indícios de motivos
raciais.O que leva a concluir que nem sempre era fácil para os negros achar trabalho no mundo
dos brancos.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A
liberdade ao que tudo indica foi enganosa .Algumas vezes levou os antigos
escravos a outro tipo de prisão ,não a do senhor mas a do Estado.
Há muito que pesquisar sobre a temática.
Muitos arquivos e jornais deverão ainda ser levantados para poder traçar de
forma mais precisa possível os indícios
dos caminhos seguidos da escravidão á liberdade.
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Coletânea de discursos parlamentares da Assembléia Legislativa da Província de
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do RS
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