CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente
trabalho resulta de extensa pesquisa, que teve inicio em 2006, na Universidade
de Caxias do Sul, sobre a presença africana da serra gaucha, tendo se
desdobrado sobre a presença africana nos Campos. Muitos dados foram levantados
e mais de mil fichas foram elaboradas sobre os escravos nos Campos de Cima da
Serra.
Os campos
do alto do planalto Meridional hoje estão recortados em vários municípios. No
século XVIII eram reconhecidas apenas duas regiões: A Vacaria dos Pinhais e a dos Campos de Cima da Serra.Mas por muito
tempo,até o final do século XIX, as duas
regiões estiveram unidas religiosa e administrativamente.Apesar das diferenças
municipais os Campos são um só espaço
geográfico que perpassam inclusive os limites estaduais, ao qual pertence
também os campos de Lages.
Muitos
senhores dos campos tinham propriedades em ambos estados e em vários municípios.
Como é o caso de Pedro da Silva Chaves
cujas propriedades se estendiam de São Marcos até Lages . Os campos assim são
mais antigos e mais importantes que as divisões municipais.
A presente comunicação
se refere à presença africana nos campos que está ligada de forma indissoluvelmente
aos senhores de terras, aquém estavam ligados por laços de pertença.
O texto trata da escravidão e dos senhores de escravos
nos últimos cem anos da escravidão nos Campos de Cima e da Vacaria, se divide
em três partes: o povoamento dos campos, A escravidão no Brasil e campos e a
escravidão .
TRAÇOS DO
POVOAMENTO
Grandes riquezas, grande
escravidão. Sêneca
Os campos do Planalto
como um todo passam a receber nomes no século XVII. Os campos do planalto ganham seu primeiro nome,
vacheria de lós pinãles (apresentado
em minúsculas mesmo).Hoje a palavra
vacaria em português tem duplo sentido: curral de vacas no ou seja lugar cercado para criar vacas ou ainda conjunto de vacas. Já em latim só tinha um sentido: lugar
próprio para criar vacas, como a língua usada pelos jesuítas era latim é
provável que na época significasse lugar
próprio para a criação de vacas.
No começo do século XVIII eram os apenas os campos sem nomes, sem cercas, sem marcas nem fronteiras. Sem moradores fixos. Nos documentos
do século XVIII para circunscrever a imensidão dos campos receberam outras denominações , Campos de Cima da Serra ,para distingui-los
dos campos da Campanha e dos da Vacaria.
Os gaúchos chamavam
a região do Planalto de Cima da Serra, ou do Alto da Serra a e
essa região setentrional,que “inscreve-se no semicírculo que descrevem os rio
Pelotas- Uruguai e cujo diâmetro é traçado pela Serra Geral” (ROCHE,1969,p.41) Hoje
corresponde ao território dos atuais municípios de Vacaria, Bom Jesus, São
Francisco de Paula, Jaquirana, e São José dos Ausentes e Caxias do Sul.
Testemunhos do século XVIII dão conta de que a
região dos campos do Planalto Rio-grandense era despovoada até o final do
século XVII. Segundo Cesar (2005, p. 232) era uma terra de ninguém. Na realidade os campos eram pouco povoados.
Ainda que não tivesse proprietários a
terra tinha dono, pertencia ao Reino
de Espanha. O domínio espanhol do Sul do
Brasil era um mundo de caminhos, pelos quais andavam índios, bandeirantes, tropeiros
e jesuítas em sua transumância,
transportando gado, escravos e índios
missioneiros. Os jesuítas possuíam inclusive um sistema de guarda, representado
pelos posteiros. A palavra que hoje significa empregado de estância que mora em seus
campos , cuja obrigação é zelar
pelas cercas e gado da propriedade,significava
então sentinelas ou guardas ficavam em pontos
estratégicos, já que não havia cercas. A
existência de posteiros pode explicar a
ocupação e o marco encontrado em na
Praça de Vacaria (?) , datado de 1692.
(RIBEIRO, 2009, p.105).
Os “Campos de Cima” foram povoados tardiamente em
relação ao Brasil, ao que tudo indica a partir de 1737, mas ao mesmo tempo em
que o restante da Capitania del Rey.Os
traçados dos municípios não interferem na ocupação das terras. Muitos dos
sesmeiros possuíam terras em vários dos atuais municípios.
Ao que tudo
indica os primeiros traços de homens brancos, foi a busca dpor caminhos.
Caminhos que seguiam duas direções: uma Leste-Oeste , das Missões às vacarias dos Pinhais e outra de
Sul a Norte, Sacramento ao Passo da Vitória
e à São Paulo.
Os viajantes, os
predadores e os invasores seguem as mesmas rotas.. Segundo Roger Bastide “a
civilização do sul é a civilização do cavalo”, que identifica o gaúcho. Mas muito antes do cavalo foi o gado
que tornou o Rio Grande parte do Brasil. Foi o gado que tornou o Sul hispânico
em território de Portugal. O uso do cavalo foi uma consequência da criação do
gado Foi o gado que deu o inicio de uma nova era. Foi o gado missioneiro dos
jesuítas espanhóis que tornou possível o Rio Grande o Sul se tornar parte do
Império Lusitano O cavalo veio depois. As bandeiras movidas pela força humana desde
o século XVII,passavam pelos campos
perseguindo e escravizando os nativos da terra. As bandeiras traçaram os
primeiros caminhos e destroçaram as populações primitivas preservadas (bem ou
mal) nas Missões. Caminhos que serviram aos colonizadores portugueses vindos do
Rio Grande e aos invasores espanhóis provenientes do Prata. Os caminhos que
cortaram o Sul passam pelos Campos.
Pelos campos, de tempos em tempos, passavam os
índios em busca de pinhão ou de caça. As terras então não tinham donos nem
nome. Os nativos, assinalados no mapa de
1751 como ibiraiáras eram Kaikangs
que pertencem ao grande tronco linguístico Jê e
aparecem na documentação e na bibliografia com as denominações de Ibiraiáras,
Caáguas, Guananáses, Coroado, Guayaná, Bugre, Gualacho, Botocudo, Xokleng,
Bate, Chova, Pinaré, Cabelludo, Kaigua, Kaaguá, Aweikoma, entre outros
(LAROQUE, 2000)
Segundo Schmitz; Becker, (apud LAROQUE ,2011) os Kaikangs
(..)foram
os prováveis responsáveis pela cultura material denominada de Tradição Arqueológica
Taquara e teriam ocupado territórios de
planalto, conhecidos como “buracos de bugre”. Os Kaingang dedicavam-se também à
caça, à pesca,à pequena horticultura e, principalmente, à coleta do
pinhão(SCHMITZ; BECKER, 1991).
Segundo
Laroque (2011) os Kaikangs mantiveram
sua cultura original apesar do contato com os bandeirantes no século XVIII. As fazendas
de luso-brasileiros ocupavam os campos, enquanto as matas eram povoadas pelos
nativos. Até 1850 não se mantiveram tranquilo, sendo comuns as chamadas correrias ,invadindo tanto as fazendas como as colônias
como Passo Fundo, Vacaria e Cruz Alta.
Aos poucos
e muito lentamente os campos começaram a ser povoados.No mapa, feito em
1747 e publicado em 16 de dezembro de
1751 para a instalação do senado da vila de São Pedro do Rio Grande da capitania
de São Paulo , o Rio Grande do
Sul recebe o nome Continente de Viamão
ou Del Rey. Nesse mapa já está presente a Capela de Nossa Senhora da Oliveira
de Vacaria. Só no século XVIII foram concedidas as primeiras sesmarias ,segundo
Borges Fortes (1940,p.40)
e até 1733 apenas três haviam sido doadas. Já nos Campos as primeiras sesmarias doadas por Gomes Freire, datam de
1752,que “Concedeu sesmarias a antigos e novos ocupantes de rincões de
Viamão Cima da Serra ,no vale dos rio dos Sinos ,no rio das Antas e nos
campos de Vacaria dos Pinhais
para precede-los a terra e facilitar a
abertura de caminhos”.( CESAR, p.76)
Poucos anos depois foram doadas outras
sesmarias na região:Santo Antônio
para Francisco Carvalho da Silva ( 1754)
Fazenda dos Touros para Bartolomeu
Silveira de Cordovil (1755);para Josep Soares do Lago ( 1755); e a São José>Segundo
Oliveira
Em 1766 “já
estavam alicerçadas 52 sedes,com uma população de 292 pessoas, a saber:1.Cima
da Serra 18 fazendas e 133 pessoas;2.Vacaria 18 fazendas e 77 pessoas3.Lages 16
fazendas e 82 pessoas( OLIVEIRA ,2004 p.271)
Segundo a "Relação do Número de Pessoas que há no Distrito de Cima da
Serra, Vacaria e Lages, em 1766"
Conselheiro Mafra Processo
Judicial da questão de limites com o Estado do
Paraná (MARCOLINI, Internet).Havia então 17 proprietários .
DISTRITO DE CIMA DA SERRA, VACARIA E LAGES, EM 1766
Nos Campos de Cima da Serra: Total de 133
pessoas
1.
José Correia (na saída do mato, com 4 pessoas)
2.
Antônio José Moreira (com 5 pessoas)
3.
Francisco Ferreira de São Paio (com 2 pessoas)
4.
Capitão Pedro da Silva Chaves (com 35 pessoas)
outra fazenda com 5
pessoas
5.
Antônio Gonçalves dos Reis (com 9 pessoas)
6.
Antônio de Freitas Branco (com 10 pessoas)
7.
Antônio Correia Pinto (com 4 pessoas)
8.
Francisco de Almeida (com 4 pessoas)
9.
Inácio de Sousa Correia (com 3 pessoas)
10.
Francisco Manoel da Costa e Sousa (com 4
pessoas)
11.
Maria da Silva Pinheiro (viúva, com 10
pessoas)
12.
José Alvares da Silva (com 3 pessoas)
13.
Francisco Alvares de Aguiar (com 8 pessoas)
14.
Manoel de Barros Pereira (com 3 pessoas)
15.
Francisco Alvares Xavier (com 7 pessoas)
16.
Pedro Gonçalves ( com 3 pessoas)
17.
Proprietários desconhecidos da Fazenda
"Estância Grande " (com 12 pessoas)
Fonte :Histórico da Cidade de São Joaquim,
Maria Batista Marcolini)
Nas 17
propriedade viviam 133 pessoas, listadas
como habitantes dos Campos, das quais 116
eram familiares, escravos ou agregados .Não há como saber quantos eram escravos das propriedades ,mas de qualquer
forma em média viviam sete pessoas por propriedade.
Oliveira,no mesmo período levanta dez
fazendas pelas quais passavam o caminho das tropas: Fazenda da Cria de
Francisco Pinto Bandeira ;Fazenda do Pereira ;Fazenda São João de Pedro da
Silva Chaves; Estância Grande de Cristóvão Pereira de Abreu;Santa Bárbara ( ou
Menino Diabo) de Manoel de Barros Pereira;Fazenda Boa Vista de Joaquim
José de Canto Melo; Santa Cruz de Apolinário de Almeida Roris;Ausentes e do
Pascoal de Antônio da Costa Ribeiro;Fazenda dos Touros de Bartolomeu Siqueira Cordovil.
As
propriedades mudavam de mãos,muitas foram às terras ocupadas e logo
abandonadas. Mais tarde, algumas delas, foram arrematadas em juízo. Em 1774, o Capitão Antonio da Costa Ribeiro,
comprou terras. Após o seu
falecimento, não tendo herdeiros, os campos foram arrematados na Praça de
Ausentes, pelo Padre Bernardo Lopes da Silva e pelo tenente José Pereira
da Silva. Em 1789, algumas dessas glebas, foram arrematadas por Antônio
Manoel Velho que as denominou de Fazenda
de Santo Antônio dos Ausentes. Em 1785
já havia quarenta e cinco proprietários nos Campos.
PROPRIEDADES DOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA
– 1785
Proprietário
|
fazenda
|
Proprietário
|
fazenda
|
Luis Antônio
de Almeida
|
Um campo
de1//2 légua por meia légua
|
Antônio
Francisco de Oliveira
|
Três quartos por meia légua ¾
|
José Alves
|
Campos
despovoados
|
Antônio
Gonçalves Padilha
|
Três fazendas
Santa Bárbara
4X2
Monte Agudo3X1
Despovoada 2X1
|
Miguel Antunes
|
Duas por duas 1/2léguas
|
Bernardo José
Pereira
|
Campos
despovoados
|
Salvador
Bonete da Anunciação
|
1 ½ por duas léguas
|
Manoel
Francisco Pires
|
Cambará ¼ de
por uma 1 légua dote doado pelo
Sogro Antônio
Gonçalves Padilha
|
Cel. Rafael
Pinto Bandeira
|
Campo despovoado
|
André Nunes
Porto
|
Duas por uma
légua
|
José de Campos
Bradenburg
|
Socorro três
por 1 e ½ lLáguas
|
Antônio da
Costa Ribeiro
|
Ausentes cinco
léguas por oito
São Gonçalo
duas léguas por1/2
|
Antônio Borges
|
Duas por
uma légua
|
Ignácio Leite
Ribeiro
|
Uma légua por
meia campo
|
Antero José
Ferreira de Brito
|
Alguns campos
|
Julio da Costa
Ribeiro
|
três léguas
por duas campoE4 Fazenda
|
Antônio de
Freitas Branco Alf.
|
Sem título SP
Três léguas
por uma
|
Luiz Antônio
da Rocha
|
Duas
léguas por uma
|
Joaquim da
Silva Chaves
|
São João duas léguas por duas e meia
|
Manoel
Rodrigues de Jesus
|
Dote
de Bradenburg
Uma
légua por 1/2 légua 1 1/2 fazenda genro
|
Cap. Pedro da Silva Chaves
|
Faxinal duas
léguas por duas e meia
|
Apolinário de
Almeida Roriz
|
Santa Cruz
|
Da cria
Três léguas
por uma confirmada em 1754
|
Ignácio Araújo de Sá
|
Uma légua por meia légua Comprado de Ignácio Leite Ribeiro
|
São João 1752
sesmaria
|
João Pereira
dos Santos
|
Uma légua por
meia légua 1X1/2
|
Cerrito Três
léguas por uma
|
João da Costa
Varela
|
1/2 légua por
1/4de légua doação de Pedro da Silva
chaves(São Francisco)
|
Cedro Três
léguas por uma
|
João Teles
Xavier
|
Duas léguas
por uma compra
|
Campo duas
léguas por uma e meia
|
Bonifácio João
da Silveira
|
½ légua por um1/4
de légu
|
Campo duas
léguas por uma
|
Francisco
Rodrigues Soares
|
¼ de
légua por1/4 compra
|
Cipriano Costa
Menezes
|
Campos
despovoados
|
José Carneiro Geraldes
|
Campos
despovoados
|
Antonia Corrêa
|
São Marcos 1
1/2/ por um 1/4/ de légua
|
Manoel Muniz
Pinto de Gusmão
|
duas léguas
por uma
|
Inácio de
Sousa Corrêa
|
Pouso Alto uma
légua e meia por uma
|
Ignácio
Vitorino de Oliveira
|
Três léguas
por uma
.1772
|
José de Arruda
Falcão
|
Duas léguas
por 1/2
Mato da Serra
|
Antônio
Francisco Lisboa
|
Raposo duas
léguas por uma morador de Sorocaba
|
João Batista
Feijó
|
Estância
Grande três léguas por uma Sesmaria 1766
|
Antônio Lopes
|
Nossa Sra da
Luz
Uma légua por
meia légua 1 X 1
|
Felipe de
Oliveira Fogaça
|
Duas léguas
por uma em títulos
|
Ignácio Alves
Machado
|
2 fazendas Santa Bárbara duas léguas por ¾
Capão Alto
Uma comprou
|
Manoel Fonseca
Paes
|
Uma fazenda
|
Teresa Machado
|
Meia légua por
um quarto ½ X1/4
|
Antônio José
de Freitas
|
São Tomé Duas
léguas por meia
|
Ignácio
Pedroso de Moraes
|
Duas e ½ por uma légua 2
|
|
|
João da Costa
Moreira
|
Campos
despovoados
|
Fonte:
OLIVEIRA, Sebastião Fonseca Introdução do
gado e fixação do homem na sesmaria serrana.. .p 308.
Assim além dos 45 proprietários e suas famílias deveria haver nos Campos pelo menos 495 escravos, enquanto as terras das sesmarias já tinham
mais de 810 km .² De uma forma geral é possível
afirmar que entre 1737 até 1780 o número de escravos aumentou em termos percentuais nas lavouras do
Sul, representando até cerca de 50% do total da população regional.
A
localização das propriedades permite concluir que não havia limites em suas terras,muitas ocupavam espaços maiores do
que o dos municípios atuais . Cada
fazenda tonha em média tinha 11
escravos. Tal dado pode ser conferido tanto pelos registros de batismos como
pelos inventários, que conferem com os levantamentos de Cruxen ( 2011).
Entre 1780 a 1822 um houve um aumento da
população branca e livre maior do que a população escrava, os seus percentuais baixam para cerca de 30% do
total. De 1822 a 1888 o percentual baixou para cerca de 20% do total da
população, a baixa percentual está ligada á entrada de maciça da imigrantes europeus
e à venda de escravos para outras províncias , bem como a crise na fabricação
do charque que não conseguiu competir com o charque platino.
OS ESCRAVOS NOS CAMPOS
Um povo é o rodeio da natureza. Nietzsche
A entrada de escravos no antigo
Continente de São Pedro se dá ao mesmo tempo em que os lusos, No ciclo de
apresamento aos índios os negros escravos acompanhavam os bandeirantes,
realizando o transporte da carga pesada Com os paulistas no norte do Continente
de São Pedro vieram os escravos, mão de obra importante para o transporte de
mercadorias trabalho da pecuária e agricultura nas estâncias
Nos campos de Cima da Serra os escravos
chegaram a partir de 1737, muitos anos depois da ocupação do litoral brasileiro
nos primórdios do século XVI. Os registros paroquiais de Vacaria designam como
Campos de “Sima da Serra”(sic) a lugares
distantes da freguesia da Nossa Senhora de Oliveira de
Vacaria, como por exemplo, o da capela
São Francisco de Paula,Ausentes ou Passo da Guarda. A freguesia criada
em 1761, possui registros de batismos de
escravos desde o último quartel do
século XVIII .Antes dessa data os registros eram realizados em Santo Antônio da Patrulha.
Sendo uma freguesia de grande extensão, alguns registros de batizados
eram feitos anos
depois do nascimento outros nem eram
realizados.Assim também os registros de batismos apresentam dados incompletos.
A vida diária dos escravos nas fazendas e nas estâncias sul
rio-grandenses aparentemente não era tão pesada , quanto à das
plantações de cana de açúcar, onde o trabalho era exaustivo indo de sol
a sol. Nos campos o trabalho de cultivo do milho e das hortas e o transporte de
gado, mulas e mercadorias e de
transporte ao que tudo exigia o mesmo esforço que nas lavouras do
nordeste .
Saint Hilaire em
sua passagem pelas estâncias gaúchas revela a variedade de produtos que nelas
existiam na segunda década do século XIX
na produção das quais os escravos eram ocupados, que iam desde a fruticultura à cozinha.
Enfim eram inúmeras as atividades realizadas pelos escravos, já
que os brancos ricos e proprietários de
terras não faziam trabalhos braçais.
Como observa Laytano antes da abolição da escravatura nas fazendas gaúchas os escravos eram ocupados na plantação e nos
serviços domésticos
Entre 1750 e 1790, nos campos de
Cima da Serra lindeiros a região da serra havia cerca de 24 propriedades de
senhores de escravos, entre eles: Ângelo
Correia de Morais , Manoel de Barros
Pereira, Antônio Velho e Inácio Leite Entre os fazendeiros dos Campos de Cima podem ser citados : Ignácio de Souza
Correia, dono da Fazenda Souza; Francisco José de Oliveira Raposo, dono da
Fazenda do Raposo; André Nunes Porto, sua fazenda ia de Vila Seca à São Marcos; Apolinário de
Almeida Roriz (ou Rodrigues),dono da fazenda do Faxinal e a de Santa Cruz; Antônio Gonçalves dos Reis
,capitão das milícias, dono da fazenda
dos Ausentes ;Ignácio Alves Machado ,dono da fazendas Santa Bárbara entre
outras.( ALVES 2007,p.16)
O
dono da fazenda Santa Bárbara era Ignácio Alves Machado, Vigário de Vacaria de
1789 a 1797, mais tarde voltou à sua propriedade em São Francisco de Paula,
onde possuía escravos, que foram batizados por ele ou por outros párocos,como
exemplo ,como se lê nos registros que
seguem
Aos nove
dias de setembro de
1788 batizei e pus os santos óleos a Simão , filho
legitimo de José e Tomasia ; foram padrinhos Antônio e Catarina escravos do
reverendo Ignácio . Para constar fiz o
assento. Vigário Francisco dos Santos .
Aos 15 dias de Agosto de 1797 nesta capela de São Francisco de Paula
da freguesia da Vacaria
com licença do senhor
vigário batizei e pus os santos óleos a Paulino , inocente filho legitimo d e Antônio e Mariana
escravos do Padre,Ignácio;f oram padrinhos Domenico e Maria também
escravos daquela casa. para constar fiz o assento . P. Ignácio
Alves Machado.
.Através dos registros
de escravos batizados em São Francisco de Paula entre 1789 e 1881, constatou-se
que houve 334 batizados. As mães dos
batizando eram escravas do mesmo proprietário que o do seu filho, o que significa que havia no mínimo 668 escravos
no período, nas fazendas de São Francisco. Os registros revelam que ainda que
as crianças escravas, em geral filhos naturais, correspondendo à
cerca de 15% do total dos
escravos .Constatou-se que era igual o número de meninos e de meninas
batizados. Os padrinhos constantes nos
registros em sua a maioria eram brancos livres (71,77 %); seguidos pelos
escravos (22,35% ) sendo pouco os forros
(5,88% ) Em geral padrinhos e
escravos pertenciam aos mesmo dono. No total dos Campos no século XIX foram batizadas 1184 crianças,levando em conta
mãe e alguns pais o número de se eleva
há 2604 escravos no mesmo período. O número de proprietários que possuía mais
de um escravo batizado era de 46, sendo possível calcular que o número de escravos por fazenda era cerca de onze escravos.
Entre os muitos registros de batizados da
paróquia de Nossa Senhora da Oliveira de Vacaria analisados houve apenas um
caso de libertação pelo batismo
Registro
28 - Aos 17 dias do mês de Outubro
de 1790 nesta capela d e São Francisco de Paula de Cima da Serra filial da igreja Matriz de Nossa Senhora de Oliveira de
Vacaria ,batizei dei os santos óleos a
João , inocente filho natural de Felisberta escrava do dos herdeiros do falecido Antônio Gonçalves Padilha foram padrinhos Antônio Manoel Velho e sua mulher Anna Gonçalves Oliveira,
declarando o dito padrinho tutor do dito órfão e por faculdade do juiz de
órfãos, dava por forro por ter recebido do pai do dito para responder pela referida
quantia. Todos moradores e fregueses
dessa freguesia, para constar fiz evento só por mim assinado Vigário Ignácio
Alves Machado.
Há
apenas um registro de escrava
dada como fugida ,por ocasião do
batizado do filho.
Registro 30- Aos 12
dias do mês de Outubro de 1791 nesta capela d e São Francisco de
Paula de Cima da Serra filial da igreja
matriz de Nossa Senhora de Oliveira de
Vacaria ,batizei dei os santos óleos a
Ignácia ,filha de Júlia e de pai incógnito escravas de Francisco da Costa Velho morador da capela grande Viamão foram padrinhos Ignácio Leite e Anna da Silva , sua mulher , não
declarou o nascimento por nascer de mãe
fugida, todos moradores e fregueses dessa freguesia, para constar fiz evento
só por mim
assinado Vigário Ignácio Nunes Machado.
As escravas podiam
casar com homens livres, houve mais de um registro desse tipo de união
Registro
32- Aos 10 dias do mês de Junho
de 1791 nesta capela d e São Francisco de Paula de Cima da Serra filial da igreja matriz de Nossa Senhora de Oliveira de Vacaria
,batizei dei os santos óleos a inocente Catarina
legitima filha de Luis Bras,forro
e de Mariana escrava de Ignácio ,nascida a 4 do mês do dito ano; foram
padrinhos José escravo do alferes Antônio de Freitas Branco e Catharina escrava
do vigário todos moradores e fregueses
dessa freguesia, para constar fiz evento só por mim assinado Vigário Ignácio
Alves Machado.
Não
foram encontrados no século XVIII casos de escravos casados com forras ou livres. .Tal
fato merece reparo,pois, ao que tudo índica, só os homens tinham então direitos de casamentos em condições sociais desiguais.
Em relação à cor os escravos em sua maioria não eram registrados como negros a grande
maioria era de mulatos e de pardos
COR DOS ESCRAVOS
CARTAS DE ALFORRIA 1844-1884
Cor
|
número
|
%
|
cabra
|
4
|
0,51
|
clara
|
1
|
0,12
|
preto
|
198
|
25,71
|
preta
|
166
|
21,55
|
Mulata
|
178
|
23,11
|
Mulato
|
13
|
1,68
|
pardo
|
127
|
16,49
|
Parda
|
73
|
9,48
|
pardinha
|
4
|
0,51
|
Negros
|
2
|
0,25
|
Negras
|
4
|
0,51
|
Total
com cor
|
770
|
54,57
|
Sem
cor
|
641
|
45,42
|
Total
|
1411
|
|
Cartas de alforria dos Campos de Cima da SAerra
A
análise do registro da cor dos escravos revela dados interessantes. Em primeiro
lugar, se constata que a palavra negro era pouco usada. Os escravos de pele
mais escura eram chamados de pretos o mesmo ocorrendo com as escravas. Alguns mestiços eram chamados de cabras, (filho de mulato e negra ou vice-versa.) ,as mulheres mestiças em geral, eram designadas mulatas. O uso da palavra mulata revela o desprezo
com o qual as mulheres eram tratadas, já que a palavra significa o resultado da cruza entre cavalo e jumenta
ou jumento e égua. A palavra era aplicada“ de forma pejorativa para os filhos mestiços das escravas que
coabitaram com os senhores brancos e
deles tiveram filhos.” (Dicionário ,internet ) Os pretos e as pretas correspondiam a 364( 47% do total). Já os
mestiços correspondiam 403 ( 52,72%) .O
que atesta a mestiçagem entre brancos e
pretos.O mesmo acontece na região dos Campos onde o percentual de mestiços era
ainda maior,como pode ser acompanhado nos registro dos batismos
COR DOS BATIZANDOS SÃO FRANCISCO DE
PAULA
1870-1887
Cor
|
Nº
|
%
|
Branca
|
1
|
0,01
|
cabra
|
3
|
1,5
|
Fula
|
9
|
4,5
|
Negro
|
15
|
7,5
|
Mulata
|
16
|
8
|
Parda
|
119
|
59,5
|
Preto
|
37
|
18,5
|
Total
|
200
|
|
Livros
de batismo de São Francisco de Paula
Observa-se
que em São Francisco eram usadas menos denominação de cores do que nas cartas de alforria , dos 716 batismos realizados entre 1870 e 1887
apenas 200 traziam a cor da criança.Desses 200 cerca de 60 % eram mestiços e
40% eram pretos.Atestando grande miscigenação entre brancos e pretos bem maior
do que aquele dos alforriados.
Pouco
se conhece sobre a origem dos escravos entrados no Rio Grande do Sul e nos
Campos. Nos atestados de batismo pouco aparece a origem materna ou paterna dos
escravos ,sendo os dados insuficientes para uma analise. Entre os alforriados a
situação é outr., das 1411 fichas levantadas foi possível constatar que apenas
629(44,57%) traziam a procedência, enquanto de 55,43% não constava a origem .
ORIGEM
DOS ESCRAVOS ALFORRIADOS NO RS.
Origem
|
Procedência
|
Nº
|
%
|
Africa
|
Nagô
|
4
|
1,93
|
|
Moçambique
|
5
|
2,41
|
Africanos
|
58
|
28,01
|
Angola
|
1
|
0,48
|
Benguela
|
14
|
6,76
|
Cabinda
|
20
|
9,66
|
Cassange
|
3
|
0,96
|
Costa
|
29
|
14,00
|
Calabar
|
1
|
0,48
|
Mina
|
17
|
8,21
|
Nação
|
37
|
17,87
|
Fula
|
1
|
0,48
|
Congo
|
17
|
17,87
|
Total
parcial
|
|
207
|
33,00
|
Brasil
|
Crioulo
|
35
|
8,31
|
Bahia
|
3
|
0,71
|
Minas Gerais
|
3
|
0,71
|
São Leopoldo
|
4
|
1,93
|
Pernambuco
|
2
|
0,47
|
Porto Alegre
|
10
|
2,37
|
Alegrete
|
4
|
1,93
|
Demais províncias
|
180
|
42,75
|
RS
|
180
|
42,75
|
Total parcial
|
|
421
|
67.00
|
Total geral
|
|
628
|
|
Dosescravos registrados, 628 eram
provenientes da Africa 207 (33%) e 421 nascidos no Brasil
(67%).
Quanto
ao número de escravos entrados no Rio Grande do Sul ,a estimativa varia
de autor a autor. Somados aos escravos existentes é possível que seu número
tenha sido maior de 100 mil no período considerado. A situação muda após 1870
quando a exportação gaúcha de escravos
se torna a maior e a tendência é de
redução no número de escravos. Para poder
entender a escravidão nos campos é necessário conhecer a situação da escravidão
no Brasil,especialmente nos seus últimos cem anos (1788-1888).
Enquanto
os campos ainda estavam sendo povoados
o Brasil passava por forte modificações na sua política de mão-de-obra
OS ANOS FINAIS DA ESCRAVIDÃO
Os
últimos anos da escravidão no Brasil e no Rio Grande podem ser acompanhados pelos
relatórios do Ministério de Agricultura e Comércio e Obras públicas. Houve por
parte do Ministério um cuidado especial após a promulgação da Lei do Ventre
Livre (1872),para que a Lei e seu Regulamento fossem cumpridos. As manumissões (libertações e
alforrias ) deveriam seguir normas e trâmites determinadas por elas, havia sido
criado um fundo para a
compra da liberdade de escravos. Tais medidas legais faziam parte da política
do Império da redução progressiva da escravidão
O
Regulamento nº 5135, de 13 de novembro de 1872, previa a criação do fundo de
emancipação, que era composto (artigo nº 23) da taxa de escravos; dos impostos
sobre transmissão da propriedade de escravos; do produto de seis loterias
anuais; das multas impostas sobre o não cumprimento da Lei , entre outros. O
governo distribuiria as cotas para cada província na proporção de sua população
escrava, assim os dados se tornavam indispensáveis para a boa utilização das
citadas cotas.
Em seu artigo nº 75, o Regulamento previa a
liberdade dos escravos pertencentes á Nação, os escravos das heranças vagas e
os abandonados pelos senhores,e os dados
em usufruto à nação (sic).As cartas de alforria serão a certidão de sentença
extraída pelos escrivães e rubricadas pelos juízes (art.77) O processo de
alforria seriam sumários, sendo suficiente uma petição para a remissão,sendo
isentas de despesas sejam elas gratuitas ou onerosas.
Em cada província foi realizado um serviço
de matrícula, sendo verificado que em 1° de dezembro de 1871 existiam no
império 1.410.668 escravos, nesse cálculo faltaram 49 municípios. O Fundo tinha
ainda uma reserva de 287:500 $188 para os municípios cujo número de escravos
era desconhecido. (Relatório de 1875, p 44).
As províncias com maior número de
escravos receberiam maiores cotas.
Em
1875, os maiores plantéis de escravos eram os de Minas Gerais com 298.496; Rio
de Janeiro com 278 212; Bahia com 165.403: São Paulo com 154.861. O Rio Grande
do Sul possuía então 77.633, o que correspondia a 7,16% do total do Império,
sua cota para a alforria era de
160.322$106, era 2/3 menor do que a de Minas Gerais, cuja cota era de 573.915$0
Os dados
computados após 1872 trazem informações sobre o número de escravos
matriculados, de ingênuos (filhos de escravos nascidos livres)
entre outros.É possível concluir que os
ingênuos representavam cerca de 10% do
total dos escravos do Brasil.Em relação às províncias, Minas Gerais que possuía o maior
número de escravos matriculados ,os libertos menores correspondia a 9,66% do
total dessa população. No Rio Grande do Sul havia 11.167 ingênuos, o que
correspondia a 14,73% do total da população. No Rio Grande o Sul havia maior
número de crianças nascidas de escravos do que de outras províncias.( Relatório
, 1875, p.35)O elevado número de
crianças atesta um possível estímulo à procriação e a ausência de abortos. È
possível que na Província gaucha houvesse criatórios. Relatório apresentado à
Assembléia Geral Legislativa na quarta sessão da Décima quinta legislatura Rio
de Janeiro: Americana 1875 ,p.35.
Como
resultado da Lei do Ventre Livre houve uma imediata redução de 155861 escravos
o que representa 10,97% do total .Na verdade os filhos livres de mulheres
escravas continuariam sob a tutela ( e no trabalho escravos) de seus senhores
até completarem 21 anos. Os nascidos “livres” em 1872 deveriam permanecer
escravos até 1891. Os nascidos em 1880 seriam livres apenas em 1901. E assim
por diante. Podendo ser prolongada a escravidão até a morte da última escrava a
parir.
O
resultado da compra das cotas do Fundo de emancipação foi pouco expressivo. Em
1875 foram libertos 63744 escravos, ou seja, cerca de 5% do total de escravos
matriculados (Relatório,1979, p. 35) .De qualquer modo em menos de cinco
anos reduziu-se em torno de 15% o número
oficial de escravos no Brasil
O
número de alforrias provenientes de particulares ou de associações foram pouco
expressivos atingindo o número de 21704.a províncias que mais alforriaram foram
:São Paulo, Rio de Janeiro, Município da Corte,Rio Grande do Sul e Minas
Gerais.(Relatório, 1876, p. 35) Em 1875
em São Pedro do Suul (assim o Rio Grande é chamado)foram beneficiados 27
municípios com 207 libertos Já no Brasil as cotas do Fundo beneficiaram 496 municípios de 20 províncias com 4383
escravos libertos. .( p.35)
Até
31 de dezembro de 1875 foram expedidas um total de 21704 cartas de alforria, o
que corresponde a 1,52% do total de escravos então existentes. A concessão de
cartas de alforria foram maiores em São Paulo, Rio de Janeiro, município
da Corte, no Município Neutro,Rio Grande
do Sul e Minas Gerais
A
Lei nº 3.270 de 28 de setembro de 1885
ou Lei dos sexagenários, regulada pelo
decreto 9517 de 14 de novembro de 1885 .Previa a em seu artigo II que os
escravos ao completarem 60 anos deveriam ser libertos de forma imediata,sem
maiores formalidades. Em seu parágrafo 5
previa que "não
serão dados á matricula os escravos de 60 annos de idade em diante; serão,
porém, inscritos em arrolamento especial para os fins dos parágrafos 10 a 12 do art. 3º.""9 (idem p.95) Definia
ainda o preço dos escravos ,que em seu artigo § 3º que
se refere ao art. 1º será declarado pelo senhor do escravo, não
excedendo o máximo regulado pela idade do matriculando.A Lei previa o preço
para fins de alforria através do Fundo ou através das alforrias por compra.
A
tabela de preços era a que segue
PREÇOS DE ESCRAVOS PREVISTO
PELO REGULAMENTO 9517
Valor dos escravos
por idade
|
Em reis
|
Menos de 30 anos
|
900$000
|
De 30 a 40 anos
|
800$000
|
40 a 50
|
600$000
|
50ª55
|
400$000
|
55 a 60
|
200$000
|
Relatório, p. 1886, p.
O
valor das escravas não seguia a mesma tabela deveria ser calculado de acordo
com o artigo 4º que rezava "
O valor dos indivíduos do sexo feminino se regulará do mesmo modo, fazendo-se,
porém, o abatimento de 25% sobre os preços previstos para a mesma categoria dos
escravos.Assim as mulheres escravas valiam 25 % menos que os escravos
Em 1886 o Relatório do ministro Antônio da
Silva Prado, informa que até 30 de junho de 1885" a população escrava era
de 1.133.228 indivíduos ,menos 107.578
que o ano anterior"(idem p.103).Segundo os dados oficiais das matriculas a
redução da população escrava foi 9,49% em um ano. De acordo com os mesmos
dados, em 1873 haveria 1.505.273 escravos
,enquanto em 1886 , ou seja, 13 anos depois ,o número de escravos seria de 1.133.228,apresentando uma redução de 7,52%. Já o número de
sexagenários libertos pela Lei seria de 98.554, o que corresponde a
8,69% do total.
O número de escravos existentes no Brasil
a partir das medidas tomadas pela legislação que previa a redução progressiva
do número de escravos, teve efeito sobre a população escravizada que a partir
da Lei do ventre Livre passou a ter uma redução do número de escravos de pouco
mais de 10% ao ano. Se a Lei áurea não tivesse sido votada a extinção dos escravos levaria ainda cerca
de 7 anos. Mas com as leis houve uma prorrogação da escravidão através do
aproveitamento dos ingênuos,que não havia sido concluída em 1888.
O Rio Grande do Sul no último quartel de
século da vigência da escravidão ,estava
passando por profundas modificações em
sua população. A partir de 1824 com a entrada dos imigrantes alemães, e a
partir de 1875 com a grande imigração subvencionada ,o número percentual da
população branca dobrou.
O primeiro
Censo da Província, realizado em 1803 constatou “uma população de 36721
habitantes sem incluir crianças com
menos de 12 meses,as tropas de linha e uns 4000 peões sem residência fixa,que
andavam de um saladeiro a outro.”
populosas eram Rio Grande 8390: Porto Alegre com 3927 , Triunfo com 3037 e Cachoeira com 3.379 habitantes .Eram pouco mais pequenas vilas do que cidades,situadas em
geral nas margens dos rios
.(MULLHALL,1984,p.37)
A população escrava por sua vez tende a se reduzir
como passar do tempo. No Rio Grande o Sul em 1780 a população escrava
representava 28,5 do total ,já em1870 baixara para 22,2%.
POPULAÇÃO DA PROVINCIA EM
1814
POPULAÇÃO
|
NÚMERO
|
%
|
Branca
|
32300
|
48,23
|
Preta
|
20611
|
30,78
|
India
|
8655
|
12,92
|
Negros
Livres
|
5399
|
8,07
|
Total
|
66965
|
|
Fonte: Mulhall, Michael p. 37
De
acordo com Saint Hilaire( 1970, p37)
a população da então Província após a
Independência do Brasil já era de
cerca de 180.000 habitantes. A partir de 1824 foi acrescida dos 7491 alemães imigrantes que foram
assentados no vale do rio dos Sinos e no litoral. A partir de 1824 em São Leopoldo e em 1826, no litoral de Torres em
:São Pedro e Três Forquilhas .
Em
1862 a população era de 400 mil habitantes
,destes 315306 ( 80,29%) eram brancos e 77.419 ( 19,71%) pretos
escravos,segundo Mullhall(1894,p.38). Em 1870 Macedo(1873,p.316) informa
que a população era de 360 mil habitantes dos quais 80 mil eram escravos.
Em 1872, quando foi
reiniciado o movimento imigratório, a população da província era então de 446.926 habitantes, dos quais 41.406
estrangeiros. Conforme é possível constatar os dados são controversos . Outros ainda são os dados
oficiais sobre escravos em
1875 os escravos matriculados eram
77.633(Relatório
,1875 p.43)
Em
1878 segundo o Relatório(1880, p.94) havia 81 169 escravos .Entre 1875 e 1888
entraram 43 .685 imigrantes ,na sua maioria italianos.Entre 1875 e 1914 entraram no Rio Grande do Sul cerca de 76.168 imigrantes italianos,dos quais cerca de 70% do total entraram entre 1875 e
1894.O ano que o o Rio Grande recebeu mais
colonos foi o de 1891, quando entraram mais de 9 mil colonos.
Os imigrantes entrados no Rio Grande do Sul não
foram encaminhados para o trabalho das fazendas ou das charqueadas ,mas
estabelecidos em lotes coloniais, de colônias criadas para que nelas se
instalasse o trabalho livre. Não havendo assim a substituição da mão de obra
escrava pela livre, pois as duas coincidiram no tempo ,mas ocuparam outros
espaços,já que nas colônias era proibido o uso de escravos. Os espaços comuns foram as cidades.
Quando após a sua chegada muitos
imigrantes foram para as cidades,puderam vivenciar tanto escravos como a
escravidão.
Enquanto
chegavam os imigrantes alguns escravos foram sendo libertados por ação do Fundo
de Libertação. Em 1878 foram libertos 217 escravos; em 1882 642; em 1883
851 e em 1884 ,1135.
NÚMERO DE ESCRAVOS NO RS 1871-1888
Ano
|
Escravos
|
1871
|
69366
|
1878
|
81169
|
1883
|
98378
|
1884
|
100549
|
1885
|
99401
|
1887
|
27242
|
1888
|
8363
|
Fonte: Relátorios do
Ministério da
Segundo os mesmos
relatórios o número de escravos alforriados no R S foi de 338 em 1878 e de 2138
em 1884. Nos municípios do planalto houve pouquíssimas alforrias e tardias. Apenas em 1884,quatro ocorreram em Vacaria e 3 em São Francisco de Cima da
Serra,Bom Jesus não houve alforrias
registradas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos do século XIX, entre 1872 e
1888, quando a escravidão se aproximava do final a situação nos Campos de Cima
da Serra ,(incluindo Vacaria e São
Francisco ) era a mesma do restante do Brasil. Foram contabilizados em 1863
356 senhores dos campos, cujas propriedades variavam de ½ légua a 12
léguas em quadro,apesar da fragmentação devida as heranças eram propriedades
apreciáveis,onde eram criados centenas de milhares cabeças de gado,onde havia
uma gricultura de subsistência e alguma
produção que era vendida em outras rgiões ,especialmente de pelegos e
queijos.
Nas últimas décadas da escravidão, entre 1872 e 1888,
pareciam ter mudado as relações entre
senhores e escravos. Ao que tudo indica havia
mais liberdade para o casamento e
aceitação de casamentos entre livres e escravos. Havia então um aumento
considerável de mestiços, aos poucos os pretos se tornavam cada vez mais
brancos, revelando o aumento (?) da miscigenação. Após 1872 se torna obrigatório o registro das
crianças nascidas de mães escravas que se tornam livres. Livros de batismos da
Igreja ganham o aval do governo, para garantir os novos registros. antes a sua atividade cartorial de nascimentos e mortes,
não era controlada.
Este livro há de servir para assentamentos dos
nascimentos dos filhos da mulher escrava, recorridos desde a data da Lei n°
2.040 de 28 de setembro do corrente ano. Vai numerado e por mim unicamente
rubricado com o appelido – (ilegivel) de que uso em virtude da autorização que
me foi concedida por S. Exc. Artur Conselheiro Presidente da Província em
portaria desta data, tenho no fim o termo de encerramento. Secretaria do
Governo em Porto Alegre 17 de novembro de 1871. O oficial maior. José
(ilegivel) Castro.
Nos registros de batismo
e de casamentos é possível encontrar exemplos da nova
situação social
. 2/12/1876 Noivo: Sisinando, pardo,
escravo do Dr. Felisberto Baptista de Almeida..Noiva: Maria, branca, escrava da
senhora Joaquina do Livramento Varela.Todos desta freguesia.Testemunhas: Bento
Soares de Oliveira e José Soares de Moura. Padre Facundo Fernandes
No registro de
casamentos não havia tal controle. Em casamento realizado em 1876 , noiva Maria
é branca e escrava e seu noivo, é pardo, pertencem a donos diversos. Isso só
se tornou possível após a Lei do Ventre Livre ,pois provavelmente o filho do
casal ficaria como dependente e servidor do dono de sua mãe .Outro casamento registra em 1880 ,a primeira escrava com sobrenome nos
registros consultados .Trata-se de Maria Francisca de Moraes que tem o
sobrenome de seu dono.
12/08/1880 Noivo:
Francisco José Alexandre, 24 anos, nascido, batizado e morador nesta vila,
filho natural de Manoel Alexandre e Maria de Jesus. .Noiva: Maria Francisca de Moraes
com 30 anos, nascida, batizada e moradora nesta Villa, filha natural de Juliana
escrava de Moises Pedroso de Moraes, que deu seu consentimento para sua escrava
casar. Testemunhas: João Baptista de Jucena e Veríssima da Costa Leite, ambos
desta vila. O Vigário Antonio Mônaco.
Trata-se do casamento
de um homem livre com uma escrava, mas tal união recebeu o consentimento dos eu proprietário .Em 1884
outro casemtno curioso visto que a noiva de 52 anos tem oito filhos ,mas apenas
uma Catarina nasceu após a lei nº 2040
. 19/02/1884 Noivo: Serafim Soares de Oliva, solteiro, 50 anos, Africano,
lavrador. Escravo de Felisberto Soares do Amaral. Noiva: Theodora Soares do
Amaral, solteira, 52 anos, natural desta província. Escrava de Manoel Soares de
Oliva, já tem oito filhos, sete escravos que são: Vitória, Rita, Catharina,
Alexandre, Silvano, Pio, Pedro. Catharina é forra por Lei. Testemunhas:
Bonifácio José Damasceno e Manoel José Teixeira .Vigário Antonio Monaco
O casamento entre
mulheres escravas e homens livres era usual, o mesmo não acontecia com o inverso,
porém, em 1882 há um registro de noiva
livre e de noivo escravo.
08/10/1882 Noivo: João Thomaz da Silva, 54 anos, nascido
em Santo Antonio da Patrulha, filho natural da falecida Thomazia, escravo do
senhor Boaventura B...(?) Noiva: Rosa Pedroso Barbosa, 30 anos, filha legítima
de Francisco Manoel Pedroso e da finada Bermiria Barbosa. Testemunhas: José
Correia de Mattos e Manoel Nunes Ferreira, ambos maior de idade e que residem nesta paróquia. Vigário Antonio Mônaco
O final da escravidão nos Campos ocorreu em 1887 e
não em 1884 como em geral se afirma, sobre a liberdade dos escravos no RS.
Havoa um quantidade grande de escravos registrados,nos batismo entre 1872 e
1887 foram registrados 1430 crianças
livres filhas de mães escravas. Computados os outros escravos constantes desses
registros o número de escravos nas propriedades se eleva a 2724º que significa que havia 8 escravos em
média por propriedade ,menor do que aquele existente no inicio do século XIX.
REFERÊNCIAS
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população, Documentos manuscritos avulsos do Rio Grande do Sul, Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Lisboa.
MARCOLINI Maria Batista Histórico da Cidade de São Joaquim,Internet
Rio de Janeiro:
Americana 1877)
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA APRESENTADO À ASSEMBLÉIA Geral
Legislativa na quarta sessão da Décima quinta legislatura Rio de Janeiro
Relatório O: America
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS.
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na quarta Sessão da décima quinta legislatura .Ministro José Fernandes da
Costa Pereira Júnior .. Rio de Janeiro: Tipografia Americana ,1875 .
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS.
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Segunda Sessão da décima
sexta legislatura .Ministro Thomaz José
Coelho de Almeida. Rio de Janeiro: Tipografia Perseverança,1877 .
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS.
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Segunda Sessão da décima
sexta legislatura .Ministro Thomaz José
Coelho de Almeida. João Lins Vieira
Cansansão de Sinimbu. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional ,1878
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Segunda Sessão da
décima sétima legislatura .Ministro João
Lins Vieira Cansansão de Sinimbu. Rio de
Janeiro: Imprensa Industrial 1879
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICA
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Décima sétima legislatura Rio de
Janeiro:Tip Nacional 1880 Ministro
Manoel Buarque de Macedo
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICA
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Décima oitava legislatura Rio de
Janeiro:Tip Nacional 1882 .Ministro
Jose´Antonio Saraiva.
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICA
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Décima oitava legislatura Rio de
Janeiro:Tip Nacional 1883 .Ministro
Henrique D'Avila
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS.
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Primeira Sessão da Décima Nona legislatura Rio de Janeiro:Tip
Nacional 1885.Ministro João Ferreira de
Moura
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS.
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Quarta Sessão da Décima Oitava legislatura Rio de Janeiro:Tip Nacional 1885Ministro Affonso A. M.Penna
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS
elatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na Primeira Sessão Vigésima legislatura Rio de Janeiro:Tip
Nacional 1886 Ministro Antônio da Silva Prado
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS.
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa da Terceira Sessão
da Vigésima legislatura Rio de
Janeiro:Tip Nacional 1887 Ministro Rodrigo Augusto da Silva
MINISTÉRIO DOS NEGOCIOS DA AGRICULTURA ,COMMERCIO E OBRAS PÚBLICAS.
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa da Terceira Sessão
da Vigésima legislatura Rio de
Janeiro:Tip Nacional 1888 Ministro Rodrigo Augusto da Silva
O Philantropo .periodico humanitario,scientifico e
litterario. Rio de Janeiro, anno 1 e
2, 1850-1851
541 inventários post-mortem, 1765-1825, Arquivo
Público do Estado do Rio Grande do Sul
,
ROCHE,
Jean. A colonização alemã e o Rio Grande
do Sul. Trad. de Emery Ruas. Porto Alegre: Globo, 1969..
SILVA, Riograndino de Costa e. Notas à margem da História do
Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1968.
Pesquisas.
Antropologia nº 64. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS,
2007
PEREIRA, Cláudio Nunes (org.Genealogia tropeira Paraná, Santa Catarina
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